Esse estado de celular que vivemos é uma droga. E, agora, passei a contar quantas horas aguento sem olhar o bicho. Não há desgrude da mão. Talvez, seja a evolução das digitais dos dedos ou o HD externo do corpo.
Uma impregnação tão escrota que nem de madrugada, quando levanto para mijar ou beber água, passo impune pelo criado mudo. Teclo para desbloquear o troço e espio.
Não sei atrás de que! Uma hora daquela! Em tese todo mundo dormindo e, em vez de voltar para os travesseiros, faço uma paradinha para olhar. Isso já é dependência tecnológica?
Deve ser. E mesmo com a desculpa de ser também uma "ferramenta" de trabalho ou conexão com familiares, a verdade é que estou entre os zumbis que não conseguem mais largar essa coisa enfeitiçadora.
A besta fera, a mulher dos sete sóis e das sete luas, montada num rinoceronte sangrando porque lhe cortaram o único chifre, deve ser o aparelho celular. O fim e o recomeço do mundo.
É tão assim que sempre acusamos alguém, ao nosso lado, de ser mais dependente do que nós. O outro é que joga mais, que mais se gruda no Instagram, que não consegue mais viver sem o zap.
Nunca tive muita paciência com as besteiras do Facebook, uso muito o WhatsApp e mais ainda o Instagram. Sou desses patos que Zuckerberg e Jobs montaram a arapuca e me vi presa.
O dia inteiro trabalho, também, pra eles. De graça ou em troca de umas migalhas. Acho ótimo e tenho um milhão de justificativas para quem reclama da senzala tecnológica.
Viramos cativos, mas é uma forma de ganhar dinheiro. Depende do uso que se faz. Facilita a vida. Encurta distâncias. Faz reencontrar amigos perdidos no tempo. Avisa o que devo comer. Marca transas. Respira por mim...
Noutro dia, setembro de 2017, fui assaltado pela terceira vez na Cidade. Ali, na dona Leopoldina, levaram o carro, um monte de livros, passaporte e o celular.
Como fez falta o diabo do celular. Mais do que o carro. Primeiro porque fiquei alguns minutos sem saber como avisar alguém sobre o que tinha se passado e precisava ir à Polícia.
Depois, porque quase tudo meu guardei por lá. Inclusive uma agenda com contatos de outros dependentes que poderiam me ajudar. Resolvido a chatice de ir à delegacia, estava ilhado porque as pessoas próximas também são bichos do zap.
Oh, pedaço de mim!
Isso também é doença. Só pode. Enquanto escrevo a Das Antigas, peguei mais de vinte vezes o celular. Olhei o Instagram, conferi os 50 mil grupos ou pessoas no zap, fui pra varanda caçar raios daquele temporal lindo... Com o celular para aprisionar trovões para o meu rolo de câmara.