Entretanto, Guedes e Bolsonaro precisam azeitar melhor seus discursos. O ministro vai na direção, por exemplo, de uma reforma previdenciária mais ampla e profunda, enquanto o novo presidente acena com uma idade mínima de aposentadoria inferior à que está em discussão no Congresso. Estes desencontros mostram dois aspectos: primeiro, as ideias ainda não passam de discurso, uma vez que Guedes não explicou como será implementada a reforma, o período de transição etc.; segundo, Bolsonaro não está disposto a sair do palanque. Esta confusão inicial traz um ruído desnecessário para a votação deste tema, que será a coluna vertebral da política fiscal no médio prazo.
Outro ponto que poderá dar um fôlego fiscal e gerar aumento de eficiência dos serviços governamentais é a privatização de estatais. Nesta linha, por exemplo, a Caixa Econômica já mostrou que pretende manter o foco no FGTS e abrir capital de subsidiárias. Em outros casos, permitir a existência de concorrência poderá elevar a eficiência de estatais, como no setor financeiro e de petróleo.
Um ponto negativo no discurso do ministro é a ideia de que a economia de mercado irá gerar inclusão social. Embora concorde que o Estado não deva ser o motor do crescimento, claramente, a trajetória de eficiência econômica não necessariamente leva a um ótimo social. Ou seja, a economia de mercado em si não levará à redução das desigualdades sociais.
Portanto, as intenções e as expectativas econômicas com a nova equipe são boas. O Brasil já havia alterado a trajetória recessiva durante o governo Temer, mas precisa consolidar esta posição com controle de gastos, uma reforma previdenciária inteligível e efetiva e um plano de privatizações bem elaborado. Para isto, Bolsonaro precisa falar menos e reconhecer, como o fez durante a campanha, sua ignorância no que tange à economia.
Alesandra Benevides
alesandrab@gmail.com
Doutora em Economia e coordenadora do curso de Ciências Econômicas (UFC - Campus de Sobral)