O estágio a que chegou a democracia brasileira, tanto tempo depois de reintroduzida no cenário da vida pública do País, deveria inibir com maior eficácia o estabelecimento de qualquer ideia que indique possível o tratamento discriminatório a uma região por qualquer razão que seja. No entanto, infelizmente, uma ou outra manifestação, de aliado ou de oposicionista daquele que ocupe o poder, acaba por alimentar um debate de conteúdo eminentemente político, no sentido menor do termo, como efeito retardado de um quadro de disputa eleitoral que já deveria estar superado, de maneira definitiva. Faz parte do passado de todos, inclusive de quem ganhou a disputa pela presidência da República.
No caso do que há acontecido de efetivo em 16 dias de governo Bolsonaro, diga-se, há muito mais razões para tranquilidade do que para incômodo. Inexiste qualquer traço que se possa considerar a sério de que uma orientação oficial nova ameaça os interesses nordestinos ou pode, atendendo a razões políticas, adicionar elementos extras à luta de sempre que temos travado para superar dificuldades historicamente desafiadoras para a região.
A iniciativa de reunir seis ministérios, fazê-los discutir ordinariamente políticas públicas com o foco no Nordeste, a partir de suas potencialidades e problemas, é uma demonstração de que o governo recém-instalado apresenta-se disposto a oferecer soluções com as peculiaridades e no tempo que a realidade que enfrentamos exige. Claro que será necessário acompanhar com acuidade maior os trabalhos do grupo, que teve apenas o seu primeiro encontro, e cobrar que os resultados concretos apareçam, pois o simbólico, embora importante, especialmente quando se tem um quadro com as características que apontamos, não basta como elemento definitivo de compromisso de um governo.