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Editorial. Balizas para o Brasil avançar
Opinião

Editorial. Balizas para o Brasil avançar

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Tipo Notícia
Uma semana depois de empossado o novo presidente da República, o País se dá conta de que a polarização política e ideológica não arrefeceu. Ao contrário, se intensifica. A razoabilidade demonstra, no entanto, que isso não é bom para ninguém, pois os problemas reais do Brasil são muito graves e as energias da sociedade devem ser dedicadas a debatê-los e resolvê-los, e não desperdiçadas numa luta ideológica estéril e dispersiva.

 

Embora isso seja uma responsabilidade de todos, cabe ao presidente da República dar o tom do desarmamento dos espíritos, posto que detentor dos instrumentos decisórios. Se ele próprio não se inteirar da necessidade de construir pontes, diante dessa realidade polarizada, o País perderá muito tempo em escaramuças paralelas, sem sentido.

 

Isso ficou bastante configurado, neste final de semana, quando um comentário do colunista da Deutsche Welle, no Brasil, Philipp Lichterbeck, foi confundido pelo presidente Jair Bolsonaro, em seu twitter, como uma crítica formulada pelo seu ex-adversário nas eleições, Fernando Haddad (PT), dando lugar a uma troca de ofensas primárias e a um novo recrudescimento da polarização. É hora de todos descerem do palanque.

 

A primeira condição para isso é reforçar as balizas da institucionalidade e os parâmetros constitucionais. Estes estabelecem, com muita clareza, que o Brasil é uma sociedade pluralista, na qual todas as correntes de pensamento político e ideológico têm direito de se organizar e se expressar livremente, com legitimidade. As regras do jogo estão definidas pela Constituição de 1988. Ou seja, ideias são combatidas com outras ideias, no seio da sociedade civil, e não por cruzadas governamentais. O Estado não pode interferir nessa área, pois se o fizesse estaria oprimindo um dos direitos fundamentais da democracia.

 

Ao cidadão eleitor é que cabe referendar, ou não, pelo voto, a força política e ideológica com a qual se afina ou considera representativa de sua posição. Assim, ser liberal, socialista, socialdemocrata, comunista, nacionalista (de direita e esquerda) é uma opção legítima, desde que tudo se processe dentro das regras constitucionais.

 

A liberdade de expressão também é o fundamento da educação escolar. Os alunos, desde o ensino básico, devem ser preparados não apenas para exercer uma profissão e atender às exigências do mercado de trabalho, mas para exercer uma consciência crítica - exigência cada vez mais requerida na complexa sociedade contemporânea, e os professores devem ter liberdade de cátedra para estimular esse senso crítico. Firmadas essas balizas, será mais fácil desarmar a ameaça da intolerância e do obscurantismo, para todos se dedicarem ao principal.

 

 

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