O fato é que as alegações do governo fluminense causaram um mal-estar nos meios culturais e já repercutem fora do País, como uma manifestação de intolerância. Aliás, no âmbito interno, cresce o entendimento de que se está criando um clima de restrição em relação a expressões artísticas, políticas e até acadêmicas, não palatáveis a certos extratos ideológicos conservadores que pressionam o Estado brasileiro a estabelecer limites nessa área, o que não estaria de acordo com a Constituição Federal. Basta ver que o caput do Art. 220 é claro a esse respeito: "A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição". § 2º: "É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística".
Não pode haver censura prévia, no máximo se aceita a classificação etária.
Em entrevista ao Fantástico, neste domingo, o curador da mostra afirmou ter um e-mail em que a direção da Casa França-Brasil diz não se opor à performance com nus. Os críticos, porém, estão convencidos de que a reação oficial não se restringe à cena de nudez que incomodaria a segmentos conservadores na área dos costumes, mas, sobretudo, ao discurso denunciando a tortura na ditadura de 1964. Este seria objeto, hoje, de uma tentativa de revisão da História no currículo escolar, para tirar a conotação de golpe de Estado e de ditadura ao regime de 1964, o que está provocando uma reação de inconformismo, sobretudo na área educacional. Isso viria no rastro da chamada "Escola sem Partido", que muitos entendem como um fator de restrição à liberdade de cátedra e de pensamento, não se coadunando com o pluralismo do Estado Democrático de Direito. Debater essas questões é fundamental para o futuro da democracia brasileira.