Logo O POVO+
As novas identidades de uma geração
Opinião

As novas identidades de uma geração

Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Em um País de dimensões continentais, como o nosso, é comum dizermos que existem vários "Brasis" dentro do Brasil. Cada região carrega sua identidade cultural através das mais diversas manifestações sociais como festas, artes, música, gastronomia, gírias e o sotaque característicos. O chiado do carioca, o "r" marcado do interior paulista e muitos outros exemplos poderiam ser citados.

Porém, está acontecendo um fenômeno com origem nos conteúdos virtuais que vem derrubando fronteiras geográficas e criando um País à parte em termos de linguagem para um público infantil e jovem que tem em seus ídolos midiáticos - principalmente, youtubers e vloggers - as referências de comportamento.

Eu estava em um almoço e a filha de nove anos de uma amiga cearense começou a falar com um sotaque acentuadamente paulista. Uma outra criança mais velha perguntou: "Por que você está falando com sotaque paulista?" E ela respondeu que não estava percebendo fazer isso e que era o sotaque normal dela.

Em outro momento, uma criança também, ainda, sem ter completado dez anos falou para nós como se estivesse gravando um vídeo e se apresentando: "Oi, gente! Tudo bom?" e continuou a fazer suas atividades.

Passei a observar com mais cuidado esse comportamento em crianças e reparei, em várias delas, expressões e sotaques advindos de outras partes do Brasil das quais elas não têm nenhuma convivência presencial. "Mano do céu!" é uma das preferidas. Chamar as amigas pela primeira sílaba - Marcela vira Ma; Roberta vira Ro. Foi então que entendi o que eles estavam fazendo: reproduzindo o sotaque, gírias e expressões dos seus youtubers prediletos. Estes novos ídolos, em sua maioria, muito jovens. Alguns com milhões de seguidores e apelo temático para este público infanto-juvenil, tornaram- se modelos de comportamento e a personificação de alguém de sucesso e adorada. E as crianças que assistem seus vídeos querem parecer com eles, criando assim um mundo à parte, no qual o passaporte de entrada é ser um simulacro do seu ídolo, pelo menos no jeito de se expressar. n

O que você achou desse conteúdo?