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Políticas públicas para a cultura e o turismo nas cidades
Opinião

Políticas públicas para a cultura e o turismo nas cidades

Edição Impressa
Tipo Notícia

Em dezembro de 1786, Goethe, em sua viagem de dois anos pela Itália, escrevia em seu diário que "uma viagem contemplativa a terras estranhas acarreta radicais mudanças éticas e estéticas nos viajantes". Como se pode observar, as viagens já eram compreendidas no século XVIII como experiências transformadoras por serem marcadas pela fruição cultural. Em tempos atuais, se, de um lado, prolifera a produção de bens e serviços culturais, de outro, temos cada vez mais a impressão de que nosso acesso se dá a um produto padronizado, esvaziado de significação, anêmico de narrativas e de imaginários, enfim, ao que o sociólogo francês Gilles Lipowetsky denomina de "diversidade homogênea". Enquanto monumentos, centros comerciais, museus, parques temáticos, sítios históricos se fundem e se (con)fundem na paisagem das cidades, transfigurando-se em cenários para o consumo e para a produção de roteiros turísticos, temos a sensação de que a atividade turística impacta de forma cada vez mais perniciosa sobre os nossos sentidos. Podemos "ver sem viver", "consumir sem fruir", "reconhecer sem conhecer". E, quanto mais crescem as filas para as exposições de artistas consagrados, menos se observa a capacidade de decodificação cultural por parte do público! Não podemos ignorar que o aumento dos fluxos turísticos vem contribuindo para a insustentabilidade das cidades. Não será por acaso que Zygmunt Bauman observa que o maior problema das sociedades contemporâneas será o de remover o seu próprio lixo, uma das diversas faces obscuras da atividade turística. As toneladas de dejetos e de objetos descartáveis demonstram, muitas vezes de forma monstruosa, o fracasso dos modelos insustentáveis da indústria do turismo nas cidades. E, muitas vezes, com o álibi da valorização da cultura e da memória, acaba-se produzindo um turismo que dilapida, abandona e esquece. Este é um paradoxo que necessitamos enfrentar com planejamento, gestão e políticas públicas. 

 

Cláudia Leitão 

claudiasousaleitao@yahoo.com.br 

Diretora do Observatório de Governança Municipal do Iplanfor    

 

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