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Bolsonaro e seu governo teocrático
Opinião

Bolsonaro e seu governo teocrático

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Tipo Notícia
A visão teocrática de Bolsonaro já estava no seu mote de campanha: O país acima de tudo. Deus acima de Todos. Na sua fala como presidente eleito afirmou: "Faço de vocês minhas testemunhas de que esse governo será um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade. Isto é uma promessa, não de um partido, não é uma palavra vã de um homem, é um juramento a Deus." Bolsonaro não fez juramento algum ao seu eleitorado, ele diz que seu eleitorado é testemunha do seu juramento com Deus.

 

Ao falar sobre o administrar, confessa: "Não sou o mais capacitado, mas Deus capacita os escolhidos." Aqui, afirma que não foi escolhido pelos seus eleitores, mas eleito por Deus e este o capacitará. Pois, se ele foi escolhido pelo eleitor e Deus o capacitará, então, todos os presidentes anteriores, eleitos por seus eleitores, também foram capacitados por Deus. Todavia, se só ele foi eleito por Deus, só ele será o capacitado por Deus. O perigo é ele achar que pode ser Deus e querer ter poder de vida e morte sobre as pessoas.

 

Bolsonaro é um teocrático, sua formação é religiosa e militar, ele é formado por culturas que são hierárquicas e avessas à democracia; não existe exército e nem religião democráticas, todas são autocráticas. No exercício a síntese do domínio é: "manda quem pode e obedece quem tem juízo", a obediência e a violência são instrumentos para manter a ordem e a disciplina. Na religião, o domínio acontece pela crença de que o saber é uma revelação e o poder pertence aos puros. Quando há um questionamento, sempre se atribui a quem o faz que sua opinião é apenas uma interpretação ou uma doutrina, como se a visão predominante não fosse também uma interpretação e uma doutrina e, assim, se desqualifica a interpretação diferente.

 

Na política, a teocracia significa a legitimação da banalidade do mal: o estabelecimento de um comportamento de guerra onde se elimina as diferenças num jogo de soma zero. É a licença autoritária para que se possa pedir a alunos, por eles doutrinados, que denunciem, num gesto tirânico, professores que preguem ideias diferentes da doutrina da escola sem partido, onde "guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força", G. Orwell. É o uso da violência e da corrupção como forma de eliminar a violência e a corrupção atribuída apenas aos outros.

 

Uribam Xavier

uribam@ufc.br

professor de Ciências Sociais da UFC

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