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A injustiça dos justiceiros sociais na universidade
Opinião

A injustiça dos justiceiros sociais na universidade

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Tipo Notícia
Prezado leitor, já ouviu falar dos "guerreiros da justiça social" ou "justiceiros sociais"? A expressão vem de "Social Justice Warrior", "SJW". Na web encontrará muita informação. Vale deter-se nos embates com Jordan Peterson, alvo deles no Canadá.

 

Os "SJW" são extremistas que se sentem autorizados a atacar, moral ou fisicamente, oponentes de causas que defendem, mormente vinculadas aos direitos humanos, feminismo, racismo, diversidade sexual etc. Lançam mão de práticas de violência como tática, com intenção de constranger e chamar a atenção. Pense no grupo feminista radical Femen com mulheres seminuas entrando nas igrejas e gritando durante a missa para defender o aborto, e captará o fenômeno.

 

Aproveitam-se da cultura de respeito, onde atuam, para desrespeitar os "adversários". Ofendem-nos, quando deveriam enfrentá-los no campo das ideias e da política. Preferem intimidar e impedir a livre ação e expressão por meio de táticas sabotadoras das liberdades civis. Prejudicam inclusive reivindicações legítimas dos movimentos sociais, ao gerar aversão da opinião pública contra o conjunto deles, em razão de seus métodos.

 

Na internet, perseguem o opoente com argumentos que vilipendiam sua pessoa. Buscam o efeito de linchamento moral. Sentem-se engrandecidos ao agredir e escandalizar, como catarse que lhes consolida na condição de "justiceiros". Querem "sentir-se guerreiros salvadores" e, por isso, forjam o embate e praticam bullying. Como precisam do conflito para justificar sua existência, alimentam-no. Muitas vezes são manipulados e estimulados por ideólogos poderosos e intelectuais revolucionários, dentre os quais professores universitários.

 

Estão nas antípodas da proposta de Habermas para viver a tolerância pela coordenação de pretensões concorrentes mediante práticas discursivas intersubjetivas.

 

Revelam-se imaturos e antidemocráticos, incapazes de viver o pluralismo e de conviver com as diferenças. Como crianças mimadas, querem destruir o que lhes contraria. São tiranos enrustidos e ditadores em potencial. Intolerantes sob o escudo dos direitos humanos.

 

Para eles, os fins justificam os meios.

 

Há suspeitas de que algo similar a tal práxis esteja a acontecer na Universidade Estadual do Ceará (Uece).

 

Há poucos dias, o Ministério Público Federal recebeu denúncia de pessoas que seriam vítimas de agressão e intolerância política e religiosa na Uece, no Departamento de Filosofia. Oficiaram o coordenador do Centro de Humanidades para se manifestar acerca da acusação, procedimento prévio à instauração de ação judicial.

 

O estopim seria a ação de justiceiros sociais locais frente ao posicionamento da professora Catarina Rochamonte, da Filosofia-Uece, que publicou textos críticos às ideologias de esquerda. Ela e alguns estudantes estariam sofrendo ataques. Registros das ofensas podem ser vistos no Facebook dela.

 

Oxalá o desfecho dessa história reforce a legítima liberdade de expressão no meio acadêmico, que não se coaduna com ameaças e intimidação, e inspire estratégias educadoras para a autêntica tolerância. Cabe ao reitor e vice-reitor da Uece cumprirem o compromisso feito a 15 de outubro, em nota assinada por ambos, de não "calar frente aos avanços das mais diversas formas de manifestação que afrontam a democracia, inclusive a assustadora disseminação do ódio contra pessoas em razão das suas diferenças sociais, de gênero, étnico-raciais e ideológicas".

 

Antonio Jorge Pereira Júnior
antoniojorge2000@gmail.com
Doutor e mestre em Direito - USP,  professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito da Unifor  

 

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