Mais amor, menos tempo. Mais ocupações, menos preparações. Mais certezas, menos perspectivas. Mais confiança, menos medo. A segunda gravidez mostra sentimentos jamais sentidos, ao mesmo passo que não te dá muitas chances de pensar sobre eles.

Estamos cá, eu e Cadu, com 39 semanas de gestação. E a única coisa igual à época em que Léo, quase 3, estava aqui dentro, é a completa certeza de que ter filho é descobrir e acreditar. Em 2015, esperei quase 10 meses para ter um parto natural, para sentir o corpo, sentir meu útero conduzindo meu filho ao mundo. 

Não aconteceu. Tempo máximo esperado, líquido amniótico baixando e tudo o que foi planejado não se concretizando. Tudo bem, pari de uma cesariana, amamentei, amei, vivi e sou mãe.

Nesses quase nove meses, de novo, tenho esperado. Confio na natureza, no que ela diz ser melhor. Ou apenas no que ela diz. Porque um parto normal é desejo? Não sei, apenas sinto. E há quem não consiga nem entender meu sentimento. 

Mesmo assim sigo sentindo. Entre mães, temos o lema: vai passar. Tudo que você ache infinito terá um desfecho alguma hora. Acredite. Descubra.

Então, Cadu, estou aqui esperando você. A gente nem conversou muito nesses meses, né? Não houve gravações de cada mexida na barriga. Nem contagem regressiva. Mas eu sei que teremos os reggaes dançados a dois na varanda, o balanço na rede, os olhares emocionados. E sim, seu irmão nos fará companhia em muitos desses momentos. Ele é seu também, o espera. Assim como o papai.

Se você chegará da forma que eu espero, não sei. Torço que sim. Mas sorrio quando pondero que não. Você virá. Na verdade, você já veio, me encheu do inexplicável pela segunda vez na vida. Nós dois somos fortes. Fortes para a falta de tempo, para a ausência de conversas, para o pouco preparo. Você está aqui. E eu saberei, todos os dias, o que é acreditar e descobrir quantas vezes forem necessárias.

Sara Oliveira

saraoliveira@opovo.com.br

jornalista do O POVO