Logo O POVO+
O poder que buscamos
Opinião

O poder que buscamos

Edição Impressa
Tipo Notícia

Vivi uma experiência real de poder na adolescência. Tive o privilégio de viajar no assento do co-piloto de uma aeronave. Eu era amigo do comandante do voo a caminho do Rio de Janeiro. A experiência de poder ocorreu quando a aeromoça veio pedir autorização para introduzir na cabine um jovem que gostaria de conhecer o comando da aeronave. Quando ele entrou na cabine e me avistou ao lado do "assento real", uma sensação de superioridade tomou conta de mim, como se eu ostentasse uma reluzente coroa na cabeça. É verdade que boa parte daquele bem estar tolo existiu ao custo do mal estar estampado no olhar diminuído do rapaz. Isto confirma a triste e atual noção que se tem hoje sobre poder: a força robusta de alguém que foi exaltado ao custo da opressão de outrem.

 

Convido-lhe a considerar um evento marcante na vida de Jesus que define o poder em sua melhor atuação. No evangelho de João, o Filho de Deus se faz voluntário ao trabalho de um escravo e se põe a lavar os pés dos seus discípulos (cap. 13). Para ele, o poder não era o oposto de humildade e servidão. Ao contrário, seria exatamente na servidão humilde, promotora do desenvolvimento de outros, que se encontraria o propósito maior do poder! Jesus está em cena com uma bacia surrada em mãos invertendo a lógica do mundo de César, onde a conquista do poder depende da força e da opressão; onde humildade é fraqueza e serviço ao próximo, moeda de troca. No mundo de Cristo, aqui e agora, humildade é, ao invés, evidência de uma identidade que foi afirmada pelo Pai ("Tu és meu filho amado em quem tenho prazer" - Marcos 1:11); e servidão, estilo de vida de quem entendeu que a felicidade está em ser instrumento para o desenvolvimento de outros.

 

Assim, o poder que buscamos terá mais a ver com responsabilidades do que com privilégios. Será o compromisso individual de exercer boa influência em todos os espaços cotidianos, animados pelo Espírito de Deus, para empoderar e promover seres humanos. É esse o poder que subverte o mundo de César, mostrando que a humildade inspira, o serviço engrandece e a plenitude da vida se encontra mais em bacias surradas do que em coroas reluzentes.

 

Mário Sérgio Levy
marioslevy@gmail.com
Pastor da Igreja Presbiteriana Nova Jerusalém

O que você achou desse conteúdo?