Logo O POVO+
Moro e Bolsonaro no Big Brother
Opinião

Moro e Bolsonaro no Big Brother

Edição Impressa
Tipo Notícia

Durante entrevista de Sergio Moro recebi alerta do Whatsapp. Era mensagem de um colega do grupo da USP. "Moro disse admirar o deputado Lorenzoni, que reconheceu ter recebido doações de campanha em caixa 2 no passado. Decepção!", "Não me surpreende", escrevia outro. Ambos votaram no 13. Um terceiro postou: "Vocês estão confundindo política com Big Brother. Escolham fatos relevantes para fazer crítica" .

 

Naturalmente, a crítica inteligente é oportuna. Serve para admoestar e prevenir. Mas, alguns têm-na praticado como simples maldizer.

Nas mídias sociais, alguns cidadãos emitem opiniões negativas por quaisquer palavras ou atitudes da equipe de Bolsonaro. Pelo volume e estilo, soam a tentativa de mostrar, talvez para si mesmos, que chegou o Apocalipse 

anunciado.

 

Para forjar a ilusão, serve todo fragmento de informação que possa ser reapresentado em aparente denúncia contundente. Atuam como um indivíduo que procura bituca de cigarro pelo chão, para reuso pessoal, sem se ater à qualidade do material e à boca de onde saiu. Reacendem polêmicas que logo se apagam, pela própria inconsistência. Satisfazem-se em denegrir o oponente.

 

Pelo teor de alguns comentários, é como se não fosse possível existir gente inteligente, bem intencionada, competente e patriota fora do seu círculo e como se qualidades objetivas de um sujeito se desfizessem só pelo fato de ele se aliar ao adversário político.

 

Para alguns, essa conduta decorre do ressentimento pós eleitoral, como espécie de ressaca. Pode ainda manifestar nostalgia do poder, mais distante.

Outro amigo, admirável coordenador de curso de pós graduação, por exemplo, está desolado. Acreditava na virada do PT, inflacionada de modo artificial pela grande mídia na última semana de campanha. Desde o 28 de outubro intensificou o repostar de notícias contra Bolsonaro em seu Facebook. 

 

Algumas vezes, ao final de seu comentário, dirige uma palavra aos que votaram no 17: "tolinhos!". Essa atitude destoa da postura de cortesia que costuma ter com todos. Vê-se que anda refém do clima enviesado. Por isso desqualifica os que votaram em opção diferente da sua.

 

Um terceiro amigo que faz doutorado no exterior chegou a dizer que aqueles  que ficaram felizes com a escolha de Moro para ministro "vivem numa realidade paralela".

 

Ora, se assim reage quem poderia ponderar sua análise mediante acesso a contrapontos, caso se abrisse a eles, pior é a situação dos que crescem imersos na doutrinação em sala de aula, sem chance de conhecer visões contrastantes. Cativados desde a juventude, são imunizados a toda crítica ao marxismo. Ficam encapsulados no fundamentalismo ideológico. Passam a viver o drama do livro 25a hora: tudo que se lhes disser contra, será interpretado em favor da ideologia. Tal modelo de educação tolhe a liberdade de pensamento, porque reduz a capacidade de perceber outras dimensões da realidade. Pessoas educadas desse modo tendem a permanecer em um labirinto intelectual. Sua trajetória existencial pode ser tornar uma "biografia mal traçada", nas palavras Julian Marías, discípulo de Ortega y Gasset.

Instaladas nessa atmosfera interior, pessoas assim julgam assistir um Big Brother político de contínuas barbáries nesse momento. Sem desconfiarem, o preocupante espetáculo da autêntica realidade paralela não está diante de seus olhos, mas do outro lado da retina. Estão elas a viver no Big Brother em que foram encerradas.

 

Antonio Jorge Pereira Júnior

antoniojorge2000@gmail.com

Doutor e mestre em Direito - USP,  professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito da Unifor 

O que você achou desse conteúdo?