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Escola com Partido
Opinião

Escola com Partido

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Tipo Notícia
Estimado leitor, há muita polêmica ao redor do projeto de lei Escola sem Partido. Poucos leram o texto. Recomendo. É curto e acessível.

 

O ponto mais controverso é determinar que se fixem nas salas cartaz com "deveres do professor"; ou seja,"direitos do aluno". Enquanto pesquisador da área, sou favorável à máxima difusão dos direitos da criança e do adolescente e sob essa perspectiva me interessa o PL.

 

Os críticos ao PL dizem desnecessário porque tais direitos já estão em outras normas.

 

O texto não estabelece crime ou pena ao professor e resguarda a liberdade de ensino. Se passar na Câmara, ainda será submetido ao Senado e à Presidência. Em todo esse percurso, pode ser alterado ou reprovado. Se sancionado, entra em vigência 2 anos depois. Uma vez lei, deverá ser interpretado conforme à Constituição. Por fim, o STF ainda pode julgá-lo inconstitucional, se assim o considerar. Então, porque toda essa celeuma agora? A quem ela serve?

 

Primeiro, por causa dos oportunistas dos dois lados, que dizem coisas que o PL não diz. Servem-se do PL inflacionado para ganhar ibope entre seus eleitores. Alimentam a desinformação. Evocam a sombra da censura para estigmatizar os respectivos oponentes políticos. A mídia amplia a espuma e lhes dá notoriedade. E pouco se fala dos direitos da criança e do adolescente nessa discussão, prioridades absolutas de acordo com a Constituição.

 

Segundo, porque há efetivamente professores manipuladores, temerosos de que a informação empodere o aluno e lhes gerem incômodo. Esse é outro aspecto pouco comentado.

 

Mas, afinal, o que poderia fazer um aluno, a partir do PL, diante do excesso docente? Exercer a liberdade de pensamento e expressão com maior segurança. Simples assim. Excepcionalmente levará o assunto a autoridades escolares ou civis. Isso seria ruim? Por quê? Para quem?

 

Chama-me a atenção a existência de vozes contrárias ao PL a afirmar que pode gerar manifestações dos estudantes. Novamente, se divulga direitos do aluno, não é bom que ele os conheça e possa exercer a cidadania? Se ele passar do razoável, também deverá ser corrigido e aprenderá.

 

Ocorre-me analogia com a Lei Maria da Penha, de 2006. Pôs em evidência a violência doméstica contra a mulher. Facilitou a reação das vítimas. Empoderou em face de agressores.

 

Agora, para que tenha noção do que o projeto coíbe, vamos imaginar o seu oposto, um projeto "Escola com Partido".

 

Tomo abaixo trecho do texto que deverá constar no cartaz "Deveres do Professor" e inverto. Os termos alterados estão "entre aspas". Veja o efeito.

 

São "direitos" do professor: "aproveitar" da audiência cativa dos alunos, com o objetivo de cooptá-los para uma corrente política, ideológica ou partidária; "favorecer ou prejudicar" os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas; "fazer" propaganda político-partidária em sala de aula ou incitar seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas; ao tratar de questões políticas, socioculturais e econômicas, "não apresentar" aos alunos, de forma justa - isto é, com a mesma profundidade e seriedade -, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito; "não respeitar" o direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.

 

Que tal? O aluno é vulnerável a tudo isso. A informação de seus direitos é o melhor modo de empoderá-lo.  

 

Antonio Jorge Pereira Júnior
antoniojorge2000@gmail.com
Doutor e mestre em Direito - USP,  professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito da Unifor

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