Logo O POVO+
Editorial. Trânsito: Desafio da inabilitação
Opinião

Editorial. Trânsito: Desafio da inabilitação

Edição Impressa
Tipo Notícia

A falta de habilitação de condutores de veículos motorizados é responsável por 26,7% do total de acidentes de trânsito com mortos nas rodovias cearenses, só de janeiro a agosto deste ano. Os dados são do Policiamento Rodoviário Estadual. Dessa forma constatou-se que o Ceará tem um milhão de veículos a mais do que número de condutores habilitados. A desproporção é maior no Interior, onde a fiscalização quase não chega.

 

A maior parte dos condutores inabilitados é formada por motociclistas. O mercado de motocicletas massificou-se durante os governos petistas devido às facilidades de crédito e o baixo custo de uma moto. No Interior, então, houve uma verdadeira febre, e até vaqueiros trocaram o cavalo pela moto, até na hora de conduzir boiadas. O outro lado da moeda foi o aumento de acidentes com esse tipo de veículo. Pesquisa feita no Instituto Doutor José Frota (IJF), nos três últimos meses de 2017, mostrou que, dos 619 condutores entrevistados, 25,4% não possuíam CNH, e todos eram motociclistas. Os danos causados aos motociclistas são mais devastadores pelo fato de ficarem muito expostos. Sobretudo, quando usam bebidas alcoólicas ou não portam o capacete protetor obrigatório.

 

A inabilitação também não é inusitada nos veículos de quatro rodas. Há, na  verdade, uma defasagem entre o total da frota de veículos no Estado e o número de condutores habilitados. Estes correspondem a 67,11% da frota registrada no Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE). Quanto mais se adentra o Interior, mais se depara com esse tipo de irregularidade. O campeão é o município de Pereiro (a 328 km de Fortaleza). Lá, são 10.492 veículos para 678 motoristas com CNH, conforme o órgão fiscalizador. Isso representa 15 veículos para cada condutor formal. Nem mesmo Fortaleza escapa: 8% dos acidentes na capital cearense envolvem condutores não habilitados.

 

Diante dessa realidade, é preciso fechar o cerco aos condutores inabilitados para diminuir as estatísticas de acidentes de trânsito. Se os motoristas regulares já têm um desempenho sofrível no trânsito, por conta da parca educação recebida, imagine-se o que esperar de quem não recebeu o mínimo de instrução. Evidentemente, não basta a repressão, pois a realidade social se impõe por si mesma. É preciso, sim, reforçar os programas de habilitação fornecidos pelo governo aos que têm dificuldade de bancar uma escola de trânsito particular. Essa é a realidade à qual às autoridades não podem fechar os olhos.

 

Ademais, necessita-se de ampliar o número de agentes de trânsito nos municípios. Nunca é demais lembrar que a educação para o trânsito deve começar no banco escolar. É um desafio a ser respondido com imaginação e criatividade.

 

O que você achou desse conteúdo?