O caminho que percorremos já estava planejado, traçado e enfeitado minuciosamente com as cores e as bandeiras que tentavam se eleger. Do candidato a deputado mais desconhecido ao presidenciável polêmico e midiático.
Antes de saber por onde seguiríamos, me adiantaram que provavelmente a carreata aconteceria pelos cartões postais da Capital. Se enganaram. As dezenas de carros - além do trem da alegria - percorreram alguns dos bairros mais periféricos de Fortaleza.
É lá onde há precisão, seja de educação, de segurança, de saúde. Seja de música, de animação, de movimento. Ver os contrastes, já tão costumeiros na nossa cidade, me incomodou de novo. Carro chique, carro pobre, gente rica, gente pobre, interesses de ricos e interesses de pobres. Nem todos que compunham a carreata estavam ali pelos mesmos motivos e a maior diferença era mesmo ter ou não ter.
Mas para além de todos os contrastes e incômodos vistos e vividos, algo mexeu ainda mais comigo. Algumas pessoas distribuíam, de dentro de carros, adesivos, "santinhos" e bandeiras. Uma delas, ao chegar perto de um grupo de vizinhos, sem perguntar quem ali queria militar a favor do candidato à frente da carreata, apenas jogou uma bandeira no chão. Na expectativa de que aquele povo, sedento de música e de direitos, corresse para pegá-la. Olhei, esperei ser um erro. Não era.
Um jovem pegou a bandeira e questionou junto ao motorista o porquê da ação. Ouviu algo, sorriu e entregou a peça de campanha para outra moradora. Fiquei me perguntando quem precisa conquistar o voto ou a educação de quem em meio às eleições.
Sara Oliveira
saraoliveira@opovo.com.br
Jornalista O POVO