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Que filhos vamos deixar para o mundo?
Opinião

Que filhos vamos deixar para o mundo?

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Tipo Notícia
Há 20 anos, eu ainda era solteira e ouvi essa pergunta pela primeira vez, numa campanha da marca Mamãe & Bebê, da Natura. Naquela época, casar e ser mãe nem me passava pela cabeça, mas a frase ecoa em mim desde então, cada dia com mais intensidade, à medida que minhas filhas crescem.

 

No Dia das Crianças e, embora muitos de nós não lembrem direito, como diz Arnaldo Antunes, "saiba todo mundo foi neném...saiba todo mundo teve infância..." Filhos nunca vieram com manual, porém, criar um novo ser humano tem sido uma missão cada dia mais desafiadora.

 

O mundo era mais fácil e seguro quando éramos crianças. E ainda mais simples e local, na infância dos nossos pais. As famílias eram grandes, os modelos eram sólidos, educava-se de maneira objetiva, pragmática, sem culpa ou mimimi. Ter filhos não era uma escolha, fazia parte da ordem natural da vida: nascer, crescer, trabalhar, casar, ter filhos, encaminhá-los, ter netos e partir. A criação era tarefa prioritária das mães, que seguiam o modelo patriarcal, não trabalhavam e viviam para servir à família.

 

Em pleno século 21, ter um filho, com intenção e consciência, é uma escolha de vida que requer investimento emocional, presença e exemplo. Com coerência e consistência. E desprendimento para saber que aquela pessoa não é uma extensão de nós. Ela tem vida própria e não veio ao mundo para realizar nossos sonhos. Contudo, investir na infância das nossas crianças é acreditar e investir na humanidade.

 

Que atenção temos dado ao começo da história dos nossos filhos? Nossa fala e nossas atitudes são condizentes? Fazemos o que pregamos? Promovemos a igualdade em casa, no trabalho e na nossa comunidade? Dividimos as tarefas domésticas e as responsabilidades familiares? Combatemos o machismo, racismo, homofobia, preconceitos e vieses da cultura que nos formou? 

 

Estamos criando seres humanos, íntegros, inclusivos e justos?

 

Que sejamos o exemplo que nossas crianças admirem e queiram seguir. Só assim deixaremos filhos melhores para o mundo.

 

Neivia Justa 

neivia@uol.com.br  

Jornalista, executiva e criadora do movimento #ondestãoasmulheres

 

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