Na votação do impeachment contra Dilma Rousseff, cerca de 100 deputados derrubaram a presidente eleita - "em nome de Deus". Nunca vi o nome de Deus tão blasfemado. Esses mesmos políticos cortaram Bolsas Família, direitos trabalhistas, milhões de empregos, verba da saúde e da educação. Milhões de famílias estão na miséria e eles continuam pedindo votos em nome de Deus.
A responsabilidade está nas igrejas: pregam uma fé individualista, fora das tragédias da humanidade. E o compromisso com a Paz, a Justiça, o Reino de Deus? Foi a primeira e grande preocupação de Jesus Cristo. O desespero da população, o moralismo, a obtusidade das elites, prepararam o terreno para um "salvador" armado de um populismo barato com seu lema "Deus acima de todos". Ele promete varrer os males com mão forte.
O caminho da violência incentivado pela mídia pega fácil nas almas sofridas. Mulheres "pecadoras"', samaritanos e pagãos, leprosos e doentes do tempo de Jesus são, hoje, índios, pobres, gays, negros. Do desprezo ao ódio o passo é curto. Para chegar à paz social, esse "salvador" defende a tortura, a pena de morte e as armas nas mãos da população. Todo dia, assistimos à escalada da violência deste grupo contra adversários políticos e setores excluídos. Isso deve abrir os olhos dos cristãos-voto-de-cabresto. Ou vão votar ainda nos lobos disfarçados de ovelhas?
Com seus limites, a candidatura concorrente pode ser o espaço para derrubar o projeto fascista e unir todos que querem democracia e esperança. Amplos setores das igrejas defendem esse projeto. Hoje, não há outra escolha: democracia ou barbárie. Diz São Paulo: "Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão" (Gálatas 5,1).
Padre Ermanno Allegri
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Coajudor na paróquia de São João Paulo II, articulador do Movimento Fé e Política