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Contra não fatos há argumentos
Opinião

Contra não fatos há argumentos

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Tipo Notícia
O advogado Marcos Duarte, em artigo publicado neste jornal, edição do dia 9 de outubro, afirmou que o PT "deixou uma recessão profunda da qual o Brasil ainda luta para se livrar e um exemplo de descaso com a família e seus valores". Na sequência, ele abstrai o tema da economia e atém-se à questão da família, fazendo três comentários que, a bem da verdade, merecem reparos.

 

Inicialmente, o senhor Duarte destaca, sem as ressalvas necessárias, a atuação da esquerda, leia-se governos petistas, em favor de temas como homoafetividade e poliamor, e ressalta uma suposta luta do PT para criar leis em favor do aborto e contra a homofobia. Para reforçar essas afirmações, ele cita dados do IBGE relativos ao número de divórcios ocorridos em nosso País de 1984 a 2016, o que nos leva a concluir que, se por um lado, as afirmações não são de todo inverídicas, por outro, as estatísticas do IBGE, citadas para reforçá-las, são absolutamente descabidas, pois são números dos governos Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma e Temer, usados para atribuir aos governos petistas a responsabilidade pelo "descaso com a família e seus valores". Nesse caso, como se vê, os números mentem.

 

Mais adiante, na ânsia de exaltar o seu bolsonarismo, Marcos Duarte escreve em seu artigo que "a vida pessoal dos candidatos de direita substituiu as garantias partidárias", e completa, afirmando que "o discurso da família restou reforçado com Bolsonaro que fez campanha em casa com os filhos, após o atentado". Ora, considerando que Bolsonaro já está no seu terceiro casamento, esse argumento em defesa da família é vazio e contraditório.

 

Por fim, o artigo escancara o antiesquerdismo do autor, ao afirmar que está havendo o "despejo de dinheiro da esquerda para se manter no poder e seguir seu projeto de destruição da família". Veja, primeiro, a esquerda não está mais no poder e, segundo, inexiste esse tal projeto de destruição da família. E para justificar a afirmação, o que é pior, ele compara as despesas de campanha do Bolsonaro, em 2018, com as despesas de campanha da Dilma, em 2014. É o caso, então, de perguntarmos: o autor ignora as mudanças na lei do financiamento de campanha ou age de má-fé? 

 

Antônio Araújo Souza 

professoraraujos@gmail.com

Professor, jornalista e advogado

 

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