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Uma eleição protagonizada por dois ausentes
Opinião

Uma eleição protagonizada por dois ausentes

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"Me aguardem. Primeiro turno, hein, pessoal?", disse Jair Bolsonaro enquanto dava novos passos à recuperação da facada sofrida no início do mês. O vídeo com a declaração do presidenciável foi gravado quinta-feira, 20, no Hospital Albert Einstein, onde ele segue internado. Líder das pesquisas de intenção de voto, o candidato do PSL pode ser o primeiro presidente brasileiro - ao menos desde a redemocratização - a ser eleito sem participar da maior parte da sua campanha de rua.

 

O outro nome com potencial para este feito inédito era o de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está preso em Curitiba, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Antes de ter a candidatura indeferida, ele ocupava o primeiro lugar nas pesquisas - isso sem participar pessoalmente de nenhum debate, entrevista, comício ou outro ato político.

 

Embora afastados presencialmente da campanha, os dois seguem protagonizando a disputa, e a substituição do ex-presidente por Fernando Haddad (PT) não muda isso: o ex-prefeito de São Paulo fala por Lula e só fala do Lula, na esperança de absorver todos os votos do líder petista. Quem vota em Haddad é, também, quem sonha, de certa forma, em ter o governo Lula de volta.

 

Gostemos disto ou não, esta será uma eleição de Bolsonaro versus Lula, simbólica e objetivamente. Isso não significa que somente um dos dois possa vencer, é claro. É a polarização entre eles que tem dado o tom da campanha, mas ela também tem gerado uma busca, por parte da população, de um candidato que fuja dos tais "extremos".

 

Esse cenário tem gerado uma disputa paralela entre os candidatos que querem ser vistos como uma "terceira via" possível. Quem larga na frente com essa estratégia é Ciro Gomes (PDT), que no início da campanha preocupou-se mais em ser o candidato da esquerda para herdar os votos de Lula. Já Geraldo Alckmin (PSDB) tem atacado igualmente o PT e o Bolsonaro, encarnando o bom e velho papel que as redes sociais batizaram de "isentão".

 

Não digo que eles podem ser classificados tranquilamente como a opção "moderada" nem mesmo afirmo que aqueles dois primeiros, os líderes nas pesquisas, são extremistas. Acredito que nesta eleição dos inéditos, protagonizada por dois ausentes, a população não está interessada em quem quer manter seu lugar em cima do muro. Finalmente temos uma eleição movida a ideologias, seja isto bom ou não.

 

Letícia Alves 

leticiaalves@opovo.com.br

jornalista do O POVO

 

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