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O voto útil como estratégia
Opinião

O voto útil como estratégia

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O voto útil como estratégia refere-se ao impasse de eleitores que, para não "desperdiçar" seu voto, escolhe aquele com mais chances de vitória em um cenário eleitoral sem preferências. Em eleições atípicas decorrentes do cenário pós-impeachment e escândalos de corrupção, a ideia se mostra pautada em uma espécie de militância inversa: a rejeição aos candidatos é predominante.

 

Os discursos dos presidenciáveis não chamam atenção quando estes elencam seus currículos e trajetórias. A referência para construírem suas estratégias no primeiro turno está nos índices de rejeição antipetista e antibolsonaro, crescimento nas pesquisas, transferências de votos e a "governabilidade".

 

O voto útil a favor da "governabilidade" se descola das eleições para o Legislativo. Um consenso de que será eleito o Congresso mais conservador deixa, por vezes, de considerar que ainda há campanha para deputado federal e senador e, assim, minimiza a escolha dos demais representantes que irão compor o bloco de alianças do governo na Câmara Federal e no Senado. 

 

Desse modo, o voto para o Legislativo fixa em legenda ou potencial de liderança pessoal, sem considerar o efeito consequente das coligações como fator constitutivo do perfil congressual.

 

Ciro e Alckmin investem na "governabilidade" como parte de um governo de transição para saída da crise econômica e política. Buscam representar a ideia de mediação entre o conservadorismo e o progresso. Haddad direciona sua campanha para o retorno aos direitos sociais e políticas características do lulismo. Com a visibilidade de Haddad como candidato, há transferência de voto de Lula, mas há também o crescimento da rejeição ao PT. A partir disso, Ciro e Alckmin buscam se colocar como alternativas no segundo turno contra Bolsonaro.

 

Caso Haddad continue crescendo, a lógica do eleitor que busca o voto útil e que não tenha incorporado o antipetismo colocará a estratégia contra Ciro e Alckmin e aumenta as chances de Haddad no segundo turno.

 

Em cenário atípico e que não há preferências, a disputa do pleito é marcada pela busca da vitória através da exclusão de alternativas de segundo turno que, por enquanto, se polarizam em anti-PT e anti-Bolsonaro. Os eleitores posicionam-se de acordo com o que não querem. Nestas eleições, tem saltado aos olhos a relação entre intenção de voto e índice de rejeição.

 

Paula Vieira 

mpaulavieiracs@gmail.com 

Professora da Unichristus e Laboratório de Estudos de Política, Eleições e Mídias (Lepem-UFC)
 

 

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