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O que falar quer dizer?
Opinião

O que falar quer dizer?

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Um dos elementos que constituem o fenômeno do "bolsonarismo" é o desejo enraizado da punição extrema aos "bandidos" e uma repulsa radical aos "direitos humanos", que, segundo se crê nesse grupo, "só defendem bandidos". A defesa, pois, de uma ação cada vez mais virulenta das forças policiais é acompanhada, de uma ponta a outra, do total silêncio acerca do despreparo visível das forças policiais em sua atuação. Para eles, a polícia não "faz melhor" por conta dos "exagerados direitos", que só contemplam "bandidos".

 

Pois bem, no dia 28 de agosto o candidato que dá nome a essa "corrente de fé/política", ao ser entrevistado pelo telejornal de maior audiência do País, defendeu, ao tratar da segurança pública, que a violência em curso no Brasil deve ser combatida "com mais violência", com "tanque de guerra", caso seja preciso, mesmo sob a possibilidade de, no enfrentamento do crime, inocentes venham a ser atingidos. Segundo o candidato, policiais devem "ir com tudo", protegidos pelo "excludente de ilicitude", e se "matar dez, trinta ou vinte, ele deve ser condecorado". Ao ser indagado sobre a possibilidade de tragédias levadas a cabo por balas perdidas, que atingem inocentes, o candidato saiu-se com "então não vamos colocar política para invadir comunidades tomadas pelo tráfico", como a dizer "não tem o que se fazer", chegando somente a lamentar morte de policiais e homens das Forças Armadas, respondendo que, no caso da morte de inocentes, bastaria, então, não pôr a tropa nas ruas.

 

Como se pode depreender, o candidato, tomado pelo cego desejo de mais armas e mais tiros, parece desconhecer que as mortes de inocentes na famigerada ação de "combate ao crime" não acontece apenas nas comunidades tomadas pelo tráfico. Fico com dois exemplos: em junho, Gisele Távora foi alvejada por tiros de policiais que confundiram seu veículo com outro que havia sido tomado de assalto; no dia 29 de agosto, um dia depois da enérgica defesa de "mais violência" na ação policial por parte do candidato, o cabo Paulo Alberto foi alvejado por tiros de policiais em ação, ao ser confundido com um assaltante. Dois casos, pois, de visível despreparo por parte de alguns membros da corporação que, ao que parece, nem o candidato nem seus seguidores parecem ver como problema a ser resolvido.

 

Emanuel Freitas da Silva 

emanuel.freitas@uece.br

Professor Assistente de Teoria Política e coordenador do Curso de Ciências Sociais Facedi/UecePesquisador do Nerpo (Núcleo de Estudos em Religião e Política)-UFC 

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