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Editorial. A democracia é um valor universal
Opinião

Editorial. A democracia é um valor universal

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De algum tempo para cá tornou-se comum militares da reserva e da ativa apontarem supostas soluções para os problemas brasileiros fora dos marcos constitucionais. Em recente entrevista, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, afirmou que o ataque a faca contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) poderia ter como consequência "dificuldades para que o novo governo tenha estabilidade", podendo "até mesmo ter sua legitimidade questionada". Ainda que ele tenha dado um tom de análise à sua fala e descartado qualquer hipótese de o Exército provocar "uma quebra da ordem constitucional", não cabe ao comandante tomar para si o papel de comentarista político.

 

O general Hamilton Mourão, quando ainda estava na ativa, fez mais de um discurso preconizando intervenção militar em caso de o "caos" tomar conta do País, sendo que caberia ao "comandante" interpretar o momento certo para cumprir a "missão". Também afirmava que o Exército via "com muito bons olhos" a candidatura de Bolsonaro. Assim, mal entrou para a reserva assumiu o posto de vice do candidato do PSL, ganhando um palanque para a sua pregação pela ilegalidade.

 

Bolsonaro, por sua vez, de sua cama no hospital, lança mais alguns ataques à democracia, questionando a lisura das urnas eletrônicas, que vêm sendo utilizadas sem nenhum indício de fraude há 18 anos. Pôr em dúvida o resultado das eleições - antes mesmo que elas se realizem -, sem apontar especificamente onde e como se daria uma suposta fraude, apenas cria turbulência, em grave prejuízo às instituições. Há poucos dias, o senador Tasso Jereissati (PSDB) fez autocrítica afirmando que o seu partido cometeu "erros memoráveis", citando entre ele o questionamento do resultado das eleições presidenciais de 2014. Mas parece haver candidatos interessados em repetir o malfeito.

 

Não é saudável que um candidato questione o processo eleitoral, do qual participa, e pelo qual já foi eleito por sete vezes à Câmara Federal. E é nocivo que militares exorbitem de suas funções, passando a opinar sobre assuntos políticos, fora da competência da caserna. Analisando-se os fatos, observa-se claramente que grupos de viés autoritário estão em campanha para provocar a desmoralização total da política e das instituições, ameaçando com uma saída ditatorial ao País.

 

São muito fortes os indícios mostrando que a democracia corre sérios riscos no Brasil. Momentos assim exigem - de pessoas, partidos e instituições comprometidos com a liberdade -, atitudes firmes e sem vacilação em defesa inequívoca da democracia como valor universal, sem a qual todos os demais valores da civilização tendem a perecer.

 

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