A filósofa Catarina Rochamonte simplificou além da conta o seu discurso no artigo "Fanatismo político, facas e a eleição presidencial", aqui publicado. Num trecho do texto a professora diz: "Alguns afirmam que a eleição de Bolsonaro é um risco para a democracia". Esse "alguns" parece se tratar de meia dúzia de desavisados que analisam o processo eleitoral brasileiro. Semana passada, dia 13, o jornal francês Le Monde refletia no editorial "Brasil: o naufrágio de uma nação" sobre o radicalismo do candidato de extrema direita Jair Bolsonaro, cuja campanha esteve a bordo de gestos violentos e termos "incendiários", até sofrer o ataque de Belo Horizonte. Esta semana a revista inglesa The Economist, põe o candidato do PSL à Presidência na capa, afirmando que ele é uma "ameaça" para o Brasil e América Latina.
No Brasil, há muitos intelectuais que não votam no PT de forma alguma, mas que examinam com muita reserva o plano de governo do militar reformado - e seu comportamento - e veem com alguma preocupação o descaso com o qual ele trata desde os direitos constitucionais às questões econômicas que soam como liberais à primeira vista mas, que no fim das contas, têm como alvo exclusivo apenas agradar os donos do capital.
Quando a filósofa Rochamonte deseja que não tenhamos de "escolher entre um militar que saúda uma ditadura do passado e um partido que apoia uma ditadura do presente", fiquei realmente me perguntando como a filosofia dever estar sendo ensinada de forma a não expandir o pensamento, ampliando-o em busca de respostas mais bem elaboradas. Nós já estivemos, por um tempo, sob o governo de um partido, hoje, sob suspeita de querer impor uma ditadura de esquerda no País.
Para refrescar a memória, só faz dois anos que esse partido deixou o governo. E o que tivemos? Nos tornamos numa Venezuela? Embarcamos num bolivarismo à brasileira? Vivemos algum tipo de censura? Qual liberdade nos foi afetada? Houve alguma tentativa ou ameaça contra a Constituição por parte desse governo? Parece-me que o ataque à Constituição se deu justamente em apear a então presidente usando-se como pretexto uma acusação que escondia o verdadeiro objetivo do impeachment. Isso foi feito pela Câmara dos Deputados e seu comandante de então, Eduardo Cunha (MDB).
Sei nada de Filosofia, apenas que o conhecimento filósofo se faz a partir de indagações, da dúvida, de um pensamento complexo que alarga variáveis. Por isso, fico me perguntando como um intelectual consegue se posicionar ao lado de uma proposta política visivelmente autoritária.
Regina Ribeiro
reginah_ribeiro@yahoo.com.br
Jornalista do O POVO