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Candidatura de Bolsonaro não é como qualquer outra
Opinião

Candidatura de Bolsonaro não é como qualquer outra

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Em menos de uma semana, acumulam-se exemplos de que a campanha do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) não é como qualquer outra.

 

Menos por suas ideias desatinadas do que pelo comportamento beligerante e abusivo que seus simpatizantes vêm adotando nas redes sociais e fora delas.

Primeiro foi o ataque à página do grupo "Mulheres unidas contra Bolsonaro", no Facebook, hackeada por apoiadores do militar, que lidera as pesquisas de intenção de voto feitas até agora.

 

Seguiram-se então a agressão a uma das organizadoras do movimento no Rio de Janeiro na última segunda-feira e, um dia antes, a retirada do ar do site "Democracia, sim".

 

Assinado por artistas, intelectuais e cientistas, o manifesto reunia, até o início da semana, mais de 200 mil signatários que rejeitam o autoritarismo do deputado federal, hospitalizado depois de haver sofrido atentado a faca.

 

A última dessas investidas de entusiastas de Bolsonaro foi contra a jornalista da Folha de S. Paulo Marina Dias, autora, ao lado de Rubens Valente, de matéria que revela que o candidato havia ameaçado de morte a ex-mulher em 2009.

 

A vida de Marina foi devassada: suas fotos, expostas, e sua imagem, degradada. Valente, o outro repórter, foi igualmente hostilizado nas redes.

Até uma profissional homônima, que atua em veículo em Belo Horizonte, chegou a sofrer os efeitos dessa cruzada obscurantista encabeçada por uma turba alimentada de ódio.

 

Diego Escosteguy, ex-editor de O Globo, também foi ameaçado por seguidores de Bolsonaro. Seu pecado: compartilhar a reportagem da Folha no Twitter.

 

Instada, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudiou as agressões. De acordo com a entidade, já são 58 ocorrências de assédio e violência contra jornalistas apenas no curso desta campanha.

 

Não é preciso citar mais casos - eles existem aos montes - para concluir que são tempos nebulosos que exigem de nós não somente serenidade, mas uma posição clara quanto aos riscos que todos sofremos.

 

E esses riscos, hoje, estão maximizados na candidatura de Bolsonaro, cuja pregação odiosa se volta contra a imprensa, a liberdade de expressão e as minorias sociais.

 

Não se trata de questionar o direito de Bolsonaro disputar eleições. Graça à democracia, regime que ele frequentemente golpeia, o candidato pode fazê-lo.

 

Contudo, o entorno da campanha do postulante do PSL à Presidência tem levado a cabo ameaças que costumavam se limitar ao âmbito da retórica.

 

Confrontá-lo sobre isso e exigir do concorrente um compromisso real com a democracia, seja por carta, seja por qualquer outro meio, não se confundem com preferência partidária ou ideológica por qualquer adversário do parlamentar.

 

É exercício de civilidade e um imperativo ético requerer de todos os participantes das eleições, em especial do capitão da reserva, uma manifestação explícita de apreço à liberdade e de respeito aos segmentos mais vulneráveis.

 

Henrique Araújo 

henriquearaujo@opovo.com.br  

jornalista do POVO

 

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