O desafio é extraordinário. Lula e o PT prepararam um projeto de transferência eleitoral. O foco principal é a população mais pobre da região Nordeste. A memória do lulismo está sendo acionada e canalizada para a campanha de Haddad. As últimas pesquisas (IBOPE e DATAFOLHA) apontam que essa estratégia está funcionando muito bem. É inegável que, comparado ao PDT, o PT tem mais estrutura e capilaridade para tamanha missão. Obviamente, Ciro conhece essas veredas e sabe que o crescimento de Haddad significa distanciar-se do segundo turno. Mirar no ex-prefeito e apontar suas limitações é, sem dúvida, um caminho arriscado. Entretanto, não se vislumbra outra trincheira. A migração de parte do eleitorado de Marina é uma incógnita decisiva.
Na contramão do que muitos analistas afirmam, o pedetista não deverá depositar todas as fichas no Nordeste. A imagem de político moderado trouxe bons frutos, porém, uma mudança de rumo é necessária e urgente. É possível que tente atrair o eleitorado que ainda não se identificou com as candidaturas de Alckmin e Meirelles. O objetivo de Ciro é defender a tese de que é o mais preparado para enfrentar Bolsonaro em um eventual segundo turno, possuindo, inclusive, mais experiência no jogo da governabilidade. Nesse caso, o voto útil seria acionado no primeiro turno. Se conseguir vender a narrativa de liderança que busca redefinir os termos do lulismo, Ciro Gomes reverterá o quadro, permanecendo na disputa. Paradoxalmente, o antipetismo pode beneficiá-lo. Vai depender do discurso cirista e do ritmo de crescimento de Haddad.
Cleyton Monte
cleytonufc@hotmail.com
pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) e membro do Conselho de Leitores do O POVO