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Síndrome da exclusão
Opinião

Síndrome da exclusão

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Morávamos em João Pessoa quando conheci alguém com Síndrome de Down. Eu devia ter uns dez anos. Fui fazer um trabalho de escola na casa de uma colega e, chegando lá, o tio dela, que vivia recluso, excluído do mundo dos "normais", desceu a escada eufórico, em nossa direção, assim que nos viu. Quase morri de susto. Perguntei o que ele tinha e me disseram que era "mongoloide". Sempre achei o termo ofensivo e, por muito tempo, o associei a pessoas com algum tipo de deficiência intelectual. Hoje sei que é uma referência aos olhos puxados típicos das pessoas com a síndrome, como os olhos dos nascidos na Mongólia.

 

Alguns anos depois, já morando em Fortaleza, descobri que um amigo tinha um irmão com a mesma síndrome, cuja existência era mantida em segredo. Ele também vivia completamente alijado do convívio social.

 

Em abril do ano passado, participei da criação e lançamento da campanha com o primeiro bebê Johnsons com Síndrome de Down. Um momento histórico para a publicidade brasileira e para todas as famílias que vivem a exclusão de ter um filho com algum tipo de deficiência. Eu não fazia ideia do grau de preconceito e rejeição que eles sofrem. Aprendi muito desde então.

 

De lá para cá, conheci a Jéssica Pereira, primeira empreendedora brasileira com Síndrome de Down, que abriu o Bellatucci Café juntamente com a mãe e a irmã. Uma moça encantadora, que ama cozinhar e oferece emprego para muitos dos seus amigos. Também conheci o Chefs Especiais Café, onde todos os atendentes têm a síndrome e esbanjam gentileza e simpatia. Recentemente, ganhei uma caixinha de brigadeiros da marca Downlícia, do chef Gabriel Bernardes de Lima, que me contou estar juntando o dinheiro para comprar um carro.

 

No próximo dia 25, viverei meu primeiro sábado como voluntária do Programa de Amizade da Best Buddies Brasil. Vou levar meu marido e filhas junto. Temos muito o que aprender com essa garotada com deficiência intelectual. Não vejo a hora.

 

E você, quando vai começar a colocar seu discurso em prática?

 

Neivia Justa 

neivia@uol.com.br 

Jornalista, executiva e criadora do movimento #ondestãoasmulheres

 

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