O período eleitoral se descortina, as candidaturas estão se desenhando e as posturas políticas vão sendo despertadas em boa parte dos eleitores. Um terreno fértil para o debate de ideias, mas também para hostilidades, principalmente nas redes sociais, um manancial inesgotável de informações - sejam elas verdadeiras ou falsas.
O ano de 2018 traz um ambiente eleitoral complexo, pelo contexto pós-impeachment e pelas denúncias contra o governo interino, o que produz no cidadão brasileiro um quase compulsório sentimento de mudança. Ao mesmo tempo, parte dos eleitores ainda se apega à velha política, defendendo-a como forma de recuperar o Brasil da crise instalada. Temos inclusive a peculiar situação de um condenado da Justiça, preso, anunciar sua candidatura à Presidência da República. "Nunca antes na história deste País" nos decepcionamos tanto.
Nesse cenário em ebulição, até as amizades são ameaçadas. Como poetizou Mário Quintana, a amizade é uma espécie de amor que nunca morre, e não deve ser vitimada por esgrimas partidárias, as quais se renovam intermitentemente a cada biênio, ora em nível local, ora em nível nacional. E também como versejou Vinícius de Moraes, acerca das vicissitudes da amizade: "Enfim, depois de tanto erro passado/ Tantas retaliações, tanto perigo/ Eis que ressurge noutro o velho amigo/Nunca perdido, sempre reencontrado." Assim, é incompreensível que pessoas se digladiem visceralmente por política, assim como por futebol. Os campos futebolísticos são mais propensos a embates apaixonados, afinal a opção por um determinado time, no mais das vezes, desafia a razão e resiste a toda e qualquer demonstração lógica. No entanto, o coliseu político tem oportunizado o mesmo tipo de escaramuça, transbordante de furor e carente de bom senso. A autovigilância é boa conselheira nesses momentos.
Lembre que muitos dos postulantes que antes se destilavam veneno agora se abraçam. Você tem todo democrático direito de apoiar o candidato que lhe transmite maior confiança - assim como seus amigos também têm. Não permita que esse efêmero período imploda amizades com décadas de existência, afinal, ainda conforme Quintana, "eles passarão, eu passarinho".
Leandro Vasques
leandrovasques@leandrovasques.com.br
Advogado, mestre em Direito pela UFPE e conselheiro da Escola Nacional da Advocacia-ENA