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À procura dos "homens bons"...
Opinião

À procura dos "homens bons"...

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"Cada um deseja para si o que é bom", observa Aristóteles nos seus escritos ao filho Nicômaco. E vai além, para se referir aos seres humanos exemplares e inspiradores: "Todos os homens aprovam e louvam os que se ocupam em grau excepcional com ações nobres; e se todos dedicassem o melhor dos seus esforços à prática das mais nobres ações, todas as coisas concorreriam para o bem comum.". O pensamento de Aristóteles provoca perguntas cujas respostas podem ser embaraçosas. Somos estimulados a aprovar e a louvar os políticos que, por meio de suas ações, dedicam-se ao bem comum? A nobreza das ações não teria desaparecido dos discursos sobre a política, em nome do pragmatismo partidário?

 

A temporada das campanhas políticas começou. Com a mesma voracidade dos jogos na Roma Antiga, nas redes sociais, WhatsApp, jornais ou programas de TV, candidatos ao poder, quase sempre são tratados como "gladiadores", pois devem mostrar e demonstrar seu ethos guerreiro e sua capacidade de sobrevivência junto aos concorrentes. São instados a enfrentar os "leões" produzidos pelas fake news, pelas "Lava Jatos", mas, sobretudo, pela situação de violência e desigualdade que assola o País.

 

Nesse contexto, não é de se estranhar que diretrizes de governo sucumbam às frases de efeito ou que reflexões mais consistentes sobre modelos de desenvolvimento que sejam facilmente abandonadas por discursos populistas. Afinal, todos os "golpes" são considerados válidos na arena em que o "vale tudo" legitima as regras de um jogo insano. "Que vença o mais forte", diriam muitos.

 

A sociedade do espetáculo, que apequena a verdadeira política, encontra solo fértil em tempos de campanhas eleitorais. Mais do que nunca, é necessário prudência. Precisamos menos de xerifes e mais de estudiosos, de menos palavras de ordem e mais de argumentos para fazermos escolhas sensatas. Volto, mais uma vez, ao pensamento de Aristóteles: "Do homem bom também é verdadeiro dizer que pratica muitos atos no interesse de sua pátria. Esse homem, de bom grado, renuncia à riqueza, às honras e em geral aos bens que são objetos de competição, ganhando para si a nobreza". E é por razões aristotélicas que replico: "Que vençam os bons"!

 

Cláudia Leitão 

claudiasousaleitao@yahoo.com.br  

Diretora do Observatório de Governança Municipal do Iplanfor   

 

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