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De quantas leis ainda vamos precisar?
Opinião

De quantas leis ainda vamos precisar?

Edição Impressa
Tipo Notícia

Maísa Vasconcelos

maisavasconcelos@gmail.com

Jornalista do O POVO


Nesta semana, duas notícias chamaram atenção para o aleitamento materno. Na segunda feira, 09, o jornal norte-americano The New York Times divulgou tentativa dos Estados Unidos de enfraquecer uma resolução da ONU de incentivo à amamentação. Após ameaças de sanções comerciais, países como Equador teriam recuado no apoio ao texto apresentado durante reunião da Assembleia Mundial da Saúde, promovida em maio pela Organização Mundial da Saúde. Interesses da indústria alimentícia teriam levado o governo dos EUA a eliminar o trecho que diz que os governos devem “proteger, promover e apoiar a amamentação”.


Na terça-feira, 10, vimos mais um relato de constrangimento a mulheres que precisam amamentar filhos pequenos em público. Em São Paulo, enquanto esperava o ônibus em um terminal de passageiros na cidade de Santo André, a dona de casa Thais Magalhães foi impedida de alimentar ao seio o filho de um mês. Segundo ela, seguranças ameaçaram chamar a polícia, caso ela insistisse em dar continuidade ao que chamaram de “atentado violento ao pudor”.


Diante de olhares silenciosos e condenatórios, deixou o bebê com fome, seguiu seu caminho. É mulher negra, o que, para ela, é motivo a mais para calar-se. Ainda assim indignou-se. Mas experimenta violências outras, não carece de mais esta. Thais tem apenas 21 anos. A impotência que, vez ou outra, se abate sobre nós todas já acompanha a jovem mãe.


Não há justificativa para impedimentos à amamentação. Mesmo assim, há vários entraves a ser superados, caso a mulher possa, queira e decida amamentar. Ao longo de mais de duas décadas, venho tratando do tema - em entrevistas com médicos, pesquisadores e ativistas - e vejo os mesmos mitos em destaque, as mesmas dúvidas passadas de geração em geração.


Agosto é o mês da Semana Mundial de Aleitamento Materno. Em 2018, o tema é “Amamentação: alicerce da vida”, em tradução livre. Mais do que falar do que já se sabe, é preciso ampliar a discussão e incluir no debate a tentativa de erotização do ato de amamentar e a urgência na aprovação do Projeto de Lei do Senado nº 514, de 2015, da Senadora Vanessa Grazziotin, que dispõe sobre o direito à amamentação em público e o dever de reparação de danos em caso de sua violação.

 

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