Logo O POVO+
Cadê a revolta?
Opinião

Cadê a revolta?

Edição Impressa
Tipo Notícia

Nagibe de Melo Jorge Neto

nagibemj@gmail.com

Juiz Federal, professor da UniChristus e autor do livro Abrindo a Caixa-Preta: por que a Justiça não funciona no Brasil?

 

Há muito anos, quando eu ainda era jovem e muito mais tolo que hoje, não me empolgava a Copa do Mundo. Para mim, era uma ilusão, um anestésico coletivo, a fuga dos problemas reais. Hoje, fico maravilhado.

 

Não esqueço as lições de um querido professor tentando nos explicar o que é a nação: o conjunto de pessoas ligadas pelos mesmos laços históricos e sentimentos comuns. Abstrato demais. Não entendíamos. Aí ele dava o toque de mestre com um exemplo. "Veja a Copa, todo mundo torce pela Seleção brasileira, todos vestem verde e amarelo, todos têm o mesmo sentimento: os pobres, os ricos, os de esquerda, os de direita, a polícia e os bandidos". Imagino Sérgio Moro, Lula, Dirceu, Deltan, Azeredo, Aécio, Cunha, Temer, todos em frente à televisão torcendo pelo Brasil.

 

Como podemos, tão diferentes, compartilhar sentimento tão forte? Ainda que simbolicamente, queremos que o Brasil seja campeão, que dê certo. Duas coisas me impressionam. A primeira é que esse sentimento seja partilhado por milhões de pessoas tão diversas, a segunda é que não resulte em nada maior. Desde 2013 temos protestos, na copa de 2014 tivemos protestos, alguns até bem grandes, protestos difusos que ainda não foram totalmente compreendidos. Tivemos protestos no impeachment, tivemos a greve dos caminhoneiros.

 

Mas a nossa revolta é tímida, nada muda, tudo se arrasta, não sabemos onde apertar ou não temos ânimo para apertar por tempo suficiente. O cenário é desolador: corrupção endêmica, corte de gastos sociais, bilhões para os fundos partidário e eleitoral, nenhum projeto político capaz de empolgar e ainda perdemos o hexa! Cheguei a pensar que a Copa seria uma chance de despertar. O sentimento de amor pelo Brasil nos faria sair de frente da televisão, propor alguma coisa, seria a faísca da revolta. Mas o brasileiro não se revolta, o brasileiro aguenta firme.

 

O que você achou desse conteúdo?