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Onde estão os políticos deste escândalo político?
Opinião

Onde estão os políticos deste escândalo político?

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Tipo Notícia

Polícia Federal e Ministério Público foram a campo ontem para o cumprimento de 15 prisões temporárias e 51 ações de busca e apreensão em São Paulo. Números gordos, fortes e que demonstram a operação Lava Jato mais viva do que nunca, o que parece uma boa notícia na perspectiva em que demonstra intacta a disposição de continuar combatendo os malfeitos com o dinheiro público no País. 

 

Chama atenção nesta etapa, porém, o peculiar aspecto em que  parece não haver agente político, muito menos partidário, alvo da investigação.  

As tantas etapas anteriores da Lava Jato (este é um dos desdobramentos da operação que tem seu núcleo central em Curitiba) sempre apresentavam um braço político, um parlamentar envolvido, um partido beneficiado, porque, afinal, o agente que operava as irregularidades a partir de um cargo público que ocupava na estruturas de governo ali estava como resultado de uma indicação que relativiza ou, até, desconsidera critérios técnicos. Sua missão era possibilitar meios de beneficiar quem apadrinhava seu nome. Já essas fases que passam pela São Paulo dos tucanos quase nunca indicam um braço da organização criminosa que passe por interesses partidários ou eleitorais. Na operação de ontem, por exemplo, apontou-se um esquema responsável por sobrepreço de R$ 600 milhões em importante obra viária do estado, feita com financiamento federal, sem que os interesses políticos tenham sido identificados ou, dentro do que se sabe, estejam sendo investigados.
 

A bandalheira na Petrobras, por exemplo, sempre tinha patrocínios partidários, do PT em grande parte dos casos, segundo a investigação costumava apontar, mas havia também o que era feito sob orientação da turma do MDB, do PP, do PTB e por aí seguia entre siglas consideradas aliadas do Governo Federal de então. As operações, invariavelmente, incluiam na lista de suspeitos parlamentares, dirigentes, enfim, alguém que representava o corrupto sistema político. Padrão que não se encontra presente às ações que passam por terras paulistas, envolvendo, no estado, uma gestão que há cerca de 24 anos dá as cartas na vida administrativa.  

 

Ninguém fala em domínio do fato, ninguém cobra que os governantes precisavam saber do que estava acontecendo, ninguém busca responsabilidades entre os que precisavam agir dentro do processo defendendo o interesse público.
 

Agora mesmo, durante julgamento no STF da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman, o representante do Ministério Público apresentou como um dos argumentos justificadores de sua condenação o fato de, sendo uma líder importante do partido, não ter “estancado a sangria que ocorria na Petrobras”. Ou seja, a tese é de que o simples fato de a senadora ter protagonismo já bastaria para envolvê-la com casos concretos de corrupção e até uma punição grave dela por isso.  Enquanto isso, em São Paulo, não se consegue estabelecer uma relação mínima entre a política e um esquema apontado como criminoso, responsável por desvios de recursos públicos milionários, ao longo de gestões sucessivas, apesar de ser um mesmo grupo no poder, uma mesma agremiação partidária e de estarem envolvidas pessoas diretamente vinculadas aos governantes e a políticos aliados. Uma regra coerente precisa ser aplicada, e que seja a mais rígida, mas que atinja a todos com a mesma força.

 

Guálter George
gualter@opovo.com.br
Editor de Política

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