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Machismo não é brincadeira
Opinião

Machismo não é brincadeira

Edição Impressa
Tipo Notícia

O machismo, a misoginia e o racismo podem se manifestar de diferentes formas, inclusive por comportamentos que, para alguns, não passam de brincadeiras, mas que, na verdade, são a mais pura manifestação do preconceito. O episódio envolvendo torcedores brasileiros e uma jovem estrangeira na Rússia, assediada e humilhada da forma mais degradante possível, é exemplo de como a cultura que hierarquiza homens e mulheres está enraizada na nossa sociedade. A ponto do grupo de covardes não só cometer suas atrocidades verbais, mas gravar e compartilhar o material para o mundo, como se houvesse alguma razão orgulho. 


Que tipo de mentalidade é essa que naturaliza o desrespeito, que acha graça em “piadas” de super mau gosto, que parece não estar preocupada com o outro, que se promove com a dor alheia, que acha normal fazer chacota com as condições de gênero ou as realidades étnicas das pessoas, que faz da diferença motivo para ações depreciativas, que transforma seres humanos em trogloditas?
 

A indignação com as cenas foi generalizada, o repúdio veio das mais variadas entidades, o que mostra que o País não está de todo perdido. Entretanto, precisamos ir além dos discursos ou dos arroubos momentâneos. Essa problemática precisa ser tratada a fundo. O que esses indivíduos cometeram é resultado de um acúmulo histórico que distorceu os conceitos de certo e errado, que degenera as relações sociais e abafa nossa capacidade de empatia.
 

Está presente em casamentos, amizades, nos locais de trabalho. Se apresenta, algumas vezes, até de maneira inconsciente. Situações que precisam ser combatidas constantemente, discutidas nos mais variados espaços, inclusive nas escolas, lugares de formação que, em muitos casos, ignoram determinados temas. O preço que estamos pagando por tanta negligência com as questões de gênero é alto demais. A tolerância com o que deveria ser intolerável está nos levando a um cenário insustentável. A face mais nojenta do Brasil foi exposta para o mundo num momento em que a tolerância entre os povos deveria ser exaltada. Mas são esses os frutos dos erros que estamos cometendo. Nos envergonhemos muito deles. Mas também mudemos nossas posturas para iniciar uma transformação realmente civilizatória. Uma nova cultura humana e afetiva precisa ser cultivada. Urgentemente. 

 

ÍtaloCoriolano
coriolano@opovo.com.br
Editor do O POVO Online

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