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Editorial. Caatinga: Virar deserto?
Opinião

Editorial. Caatinga: Virar deserto?

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Tipo Notícia

Arealização da II Conferência da Caatinga pela Assembleia Legislativa do Estado Ceará, nesta semana, colocou mais uma vez em relevo um bioma que é exclusivo do Brasil – a Caatinga - e se estende por 850 mil quilômetros quadrados, o que equivale a 12% do território do País, espraiando-se pelo Nordeste até o Norte de Minas Gerais. Bioma que está sendo devastado pelo desmatamento, mau manejo e falta de informação adequada, dando ensejo a uma ameaça já bastante visível: a de ser engolido por um deserto gerado em suas próprias entranhas.  

Travar batalha contra essa possibilidade corresponde aos anseios imediatos de 30% da população brasileira, situada no perímetro afetado, mas, na verdade, aos interesses do Brasil como um todo, que não deve ser desfalcado de um patrimônio natural sem igual no planeta, cuja biodiversidade embute riquezas ainda pouco desveladas. Sem falar que é nesse entorno que se desenvolve a cultura sertaneja nordestina, à falta da qual a identidade nacional, provavelmente, teria contornos menos enfáticos de brasilidade.
 

No caso do Ceará, a fatalidade geográfica é incontornável pelo fato de seu território estar totalmente inserido no semiárido, com mais de 90% integrando o chamado Polígono das Secas. Evitar a degradação da caatinga é uma questão fundamental para o cearense. Seu território é um dos mais atingidos supostamente pelo agravamento climático planetário. O planejamento dos recursos hídricos, no Ceará, tem sido relevante, desde que se firmou a consciência da necessidade de políticas públicas direcionadas a conviver com essa realidade, e não de tratá-la como um fenômeno inusitado
O passo seguinte é estancar os fatores imediatos da degradação do bioma, que dependem da ação do homem. Qual a causa do desmatamento da caatinga? Antes de tudo, o uso da biomassa (lenha e carvão) como fonte energética para mover a economia local: produção de cal, gesso, olarias, padarias. Um problema que tem implicações sociais e está imbricado também com a falta de acesso a energias alternativas, tais como as novas matrizes energéticas renováveis - a solar e a eólica, por exemplo. É imperativo massificar a utilização desses tipos de energia, em substituição à biomassa, e reduzir seus custos. Uma opção viável.
 

A outra é o manejo científico da caatinga e seu reflorestamento. Quando desmatada, sua recuperação leva cerca de 40 anos. É preciso buscar tecnologias de cultivo e de criação de animais adequadas às vulnerabilidades do bioma. Além de crédito, suporte tecnológico e logístico para que valha a pena, financeiramente, trabalhar pela preservação desse patrimônio.

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