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Afinal, quem #somostodoscaminhoneiros?
Opinião

Afinal, quem #somostodoscaminhoneiros?

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Tipo Notícia

Poucas vezes, o Brasil conjugou o verbo parar com tanta potência quanto agora com as manifestações dos caminhoneiros. Foram, pelo menos, 10 dias de uma crise que deu um nó em diferentes setores da economia e, por consequência, nos nossos cotidianos. De uma hora para outra, passamos a viver uma rotina de “Venezuela”, alardeada por uma agenda da mídia que, nunca na história deste País, foi tão obsessiva em um assunto só.


Sob qualquer lugar que se observe aquele cenário, foi um caos. Para dizer o mínimo. A surpresa é que acabamos todos (ou a grade maioria) fazendo daquele limão azedo uma limonada maravilhosa. 

 

Pesquisa do Instituto Datafolha apontou que 87% dos brasileiros apoiou o movimento e, o que é mais surpreendente: 56% defendiam a continuidade das paralisações. De uma maneira ainda muito nebulosa, a população aderiu aos protestos e se identificou com  aquela mobilização, por mais alheia que ela soasse.


A indignação dos caminhoneiros expressou e avivou uma dimensão coletiva que, ao menos, desde 2013, o ano que sonhamos desesperadamente, não se via com essa intensidade. O Brasil, apartado, percebeu-se coeso novamente. O Governo até tentou pautar a novidade do locaute (ou lockout), apostando em mais uma separação e induzindo a sociedade a acreditar que os caminhoneiros, na verdade, fossem massa de manobra nas mãos dos mal-intencionados empresários do setor de transporte de cargas. O tiro saiu pela culatra.
 

O Governo se rendeu, aceitou todas as reivindicações, fez festa com o chapéu alheio, deixou um rombo nas contas públicas ainda maior e o movimento se dissipou. Mesmo com o prejuízo real caindo no colo da população, a simpatia do brasileiro com os caminhoneiros, antes, durante e depois dos protestos, parece intacta. Eles falaram e, o que é melhor, fizeram algo que todos nós tínhamos ou temos algum motivo para agir de forma semelhante. O grito dos caminhoneiros nos fez lembrar tudo aquilo que tem nos sufocado. Resta torcer que esse grito se mantenha estridente até as eleições.

 

Magela Lima
lima.magela@gmail.com
Jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro

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