Logo O POVO+
Abrir mão do verde-amarelo é um erro de estratégia
Opinião

Abrir mão do verde-amarelo é um erro de estratégia

Edição Impressa
Tipo Notícia

Já faz algumas semanas que uma nova polêmica domina redes sociais e rodas de conversa: que cor devo usar durante os jogos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo? Dentro de um contexto de acirramento político que o País atravessa, uma parte da população mais à esquerda, para não ser confundida com o que eles classificam de “golpistas”, “coxinhas”, “patos paneleiros” e afins, decidiu que não vai se vestir de verde e amarelo - cores que predominaram nos protestos favoráveis ao impeachment da ex-presidente Dilma. Em vez disso, usarão uma versão vermelha do traje oficial, criação da designer Luísa Cardoso. 


Ocorre que os militantes/torcedores podem estar cometendo grave equívoco, em termos estratégicos. Afinal, estão entregando de mão beijada para o lado “inimigo” um símbolo consolidado há décadas, parte fundamental do imaginário coletivo sobre a ideia de nação, de identidade. E aqui não se trata de defender um patriotismo cego, acéfalo, homogeneizante, mas de destacar que as cores que representam o País são a da nossa bandeira, estando acima de qualquer ideologia ou picuinha eleitoral. Quem delas se apropria acaba se fortalecendo na disputa por corações e mentes. O verde e amarelo são mais que simples variações do espectro luminoso. Carregam histórias, paixões, orgulhos, sentimentos de pertencimento.
 

Vale lembrar que por muito tempo, sempre que a esquerda ameaçava chegar ao poder, adversários faziam espécie de terrorismo psicológico, espalhando que as cores da bandeira seriam alteradas em caso de vitória “comunista”. Na disputa pela prefeitura de Juazeiro do Norte, no ano 2000, alas conservadoras espalharam boato de que a então candidata pelo PT, Íris Tavares, iria pintar a estátua de Padre Cícero de vermelho caso fosse eleita. Ela, que vinha crescendo, acabou derrotada. Isso é só para se ter noção do quanto essa questão imagética mexe com as pessoas. No momento em que a esquerda põe de lado as cores nacionais, ajuda a alimentar o discurso de que alguns grupos colocam partidos acima do País.
 

Ao mesmo tempo, não se está defendendo que é impossível ser crítico neste momento. Dá pra gritar um “Fora, Temer”, lutar por mais democracia, vestindo a “amarelinha”. Principalmente quando projetos que flertam com o fascismo se colocam como verdadeiros defensores do País.

 

Ítalo Coriolano
italocoriolano@gmail.com
Editor do
OPOVO Online

O que você achou desse conteúdo?