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Quem se responsabiliza por Hannah Evelyn?
Opinião

Quem se responsabiliza por Hannah Evelyn?

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Tipo Notícia

São tempos nebulosos. Diante da sucessão de graves acontecimentos, não podemos aceitar que alguns fatos sejam engolidos pela urgência de outros. Na semana em que a crise dos combustíveis tomou as atenções do noticiário local e nacional — com notória relevância —, uma criança de quatro anos morreu em uma creche municipal de Fortaleza, após o piso sobre uma fossa ceder. É grave demais para se perder em meio a tantas notícias.


Foi na hora do recreio. Hannah Evelyn de Andrade Laranjeira brincava com outras crianças no Centro de Educação Infantil Professora Laís de Sousa Vieira Nobre, no bairro Ancuri, quando o chão afundou, na última quarta-feira, 23. Outras duas crianças, que chegaram a ser socorridas por funcionários da creche, ficaram feridas.
 

Após a tragédia, vieram à tona inúmeros problemas na estrutura de estabelecimentos de ensino, que cumprem papel social tão relevante. Não haveria ali uma fatalidade anunciada? Mães de alunos apontaram que não se podia tocar as paredes da creche, em dias de chuva, por causa do risco de choque. Após o episódio, foi observado que o muro da instituição estava prestes a cair.
 

O Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca) afirma que, não é de hoje, vem denunciando a precariedade de instituições de ensino. São muitas as escolas que funcionam em prédios antigos e alugados, sem reforma há muito tempo, destaca o Cedeca.
 

A Prefeitura de Fortaleza anunciou que abriu sindicância. Inquérito policial investiga a ocorrência. A apuração é fundamental, mas não basta. 


A parte que cabe à Prefeitura vai além do projeto pedagógico, capacitação profissional, qualidade da alimentação oferecida. As circunstâncias da morte de Hanna Evelyn pressionam a gestão municipal a reavaliar as condições físicas dos imóveis que mantém — alugados ou não — para ter as crianças sob sua responsabilidade. 

 

Uma atribuição tão primária que não precisaria ser assumida somente após a morte de uma criança.

 

Lucinthya Gomes
lucinthya@opovo.com.br
Jornalista do O POVO

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