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Mesmo que o Piauí não seja aqui, o exemplo vale
Opinião

Mesmo que o Piauí não seja aqui, o exemplo vale

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Tipo Notícia

Muitos dirão, e dizem, que os movimentos certeiros dos articuladores do governador Camilo Santana (PT) nos últimos dias, que desfalcaram a oposição e ampliaram a sua já enorme base aliada, definiram a disputa sucessória no Ceará em 2018. Não acredite. A realidade, graças a Deus e aos eleitores, é muito menos incerta do que fazem crer estes conchavos de bastidores, nem sempre chancelados por quem efetivamente detém o voto. 

 

Para quem considerar que assim não é, valho-me de um exemplo que parece bastante simbólico de como as coisas costumam funcionar no mundo real da política.  

Aconteceu no vizinho Piauí, 24 anos atrás. PSDB e PFL viviam às turras, num cenário de relações rompidas e conversa nenhuma, acompanhados à distância por um (P)MDB que desempenhava um papel de coadjuvante na disputa local pelo poder. Um dia, às vésperas da disputa pelo governo, tucanos e pefelistas amanheceram amigos de infância e anunciaram um acordo histórico que, acreditava-se, definia Átila Lira como futuro governador. A eleição, a partir daquele momento, parecia uma questão de mera formalidade a ser cumprida com alguma preguiça por votantes e votados. Pois é, alguém esqueceu de botar o eleitor na equação e, finalizado o processo, estava eleito o azarão peemedebista Mão Santa, que começara a caminhada com apenas 3% das intenções de voto e o apoio de menos de 20% dos 224 prefeitos que há no estado, quase nenhum de município importante.
 

Claro que não dá para apenas pegar o caso piauiense e transportá-lo para o Ceará. Há muitas variáveis a considerar, boa parte, inclusive, até apontando mais vigor comparativo nas perspectivas do General Teophilo, que a oposição deverá apresentar como candidato para enfrentar Camilo Santana, a começar pela relevância, política e eleitoral, de alguns dos poucos que ficaram ao seu lado para tocar a campanha. É o caso do senador Tasso Jereissati, principal fiador de uma candidatura que permanece no campo da incógnita considerando-se o desconhecimento do cearense sobre quem seja, o que pense e as soluções que tem para resolver os problemas e consolidar as potencialidades do Estado.
 

O que o exemplo do Piauí nos mostra de fundamental é que não existe, em política, vitória ou derrota de véspera. O fato de Camilo reunir em torno dele muitos partidos, vários líderes importantes, deputados de todas as ideologias, oferece a ele uma vantagem importante, sem lhe garantir antecipadamente a reeleição. Ou seja, é equivocada a ideia que vejo espalhada com entusiasmo por alguns de que ao juntar 24 partidos na coligação e trazer de volta aos braços governistas gente com o peso do senador Eunício Oliveira e de Domingos Filho, com seus respectivos grupos políticos, o governador assegurou sua permanência no Palácio da Abolição por mais quatro anos, a partir de janeiro de 2019.


No meio do caminho há uma eleição, a ser disputada em circunstâncias que ainda geram muitas incertezas, pelas novas regras de financiamento, o tempo mais curto e outras novidades que se juntam ao fato de ser a primeira disputa eleitoral sob efeito real da Lava Jato. Claro que Camilo dá os primeiros passos em vantagem, marcou um gol com as últimas adesões, mas, repito, precisará fazer campanha para ganhar. Quem duvida, olhe para o que aconteceu no Piauí naquele 1994 a cujo exemplo recorro e veja como as coisas nem sempre parecem assim tão fáceis de explicar.

 

Guálter George
gualter@opovo.com..br
Editor de Política do O POVO

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