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Eles estão velhos
Opinião

Eles estão velhos

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Boa intenção não falta. Ao contrário do que julga o senso comum, custa-me crer que a corrupção seja o motor da maioria dos gestores públicos. Em verdade, os honestos padecem no pecado da generalização. O mesmo a enviar para o fogo comum do inferno, os bons e os maus policiais, os bons e maus médicos, os bons e os maus juízes, os bons e maus jornalistas. Assim como o senso e o fogo, a vala é comum. Se bem que, como dizia o infernal Harry Lipsig, jornalistas são cínicos demais e acham que sabem tudo. 


Vamos tratar da média. O que mata é a velhice. Nos três poderes. Parece que não aprendem. Por velhice entendamos não o calendário, mas os hábitos. 

 

Paira uma soberba nos atos e no ethos. Agem quase sempre a dar de ombros para o mundo fora dos palácios e dos tribunais. Vivem, quando muito, a falsa simplicidade do pé na lama e do suor da vida real. Parece que estou a ver a propaganda eleitoral a começar em breve. O déjà vu já começou antes da estreia porque o conceito de primeiro dia já foi superado. Está nas redes sociais, em posts e stories.
 

Veremos candidatos em corpo a corpo nas ruas do subúrbio. Já vemos desde 1986, quando o dress code no Ceará era camisa azul listrada, calças jeans e tênis Reebok. Era o máximo. Naquele tempo começaram com mais força os jingles - também conhecidos como musiquinhas – e símbolos com as mãos. 

 

Nas peças, gente bonita, feliz, jovem. Ficava mais moderno porque os antigos agiam à moda antiga. Aquela turma venceu e deixou um legado vivo até hoje na gestão pública. O Ceará lhes deve isto. Mas eles também envelheceram.
 

Quem no poder está, começa a campanha no dia da posse. A maldita reeleição ampliou o tempo de palanque. Lula, a propósito, nunca desceu dele. Montou em um quando estava a caminho do cárcere. Só desceu quando entrou nele.
 

Sim, eles estão velhos. Para cima e para baixo, para esquerda e para a direita. Na oposição e no Governo. As manifestações de rua, marcadas pela forte participação de jovens, deveriam ter ensinado mais. Quem moveu a massa, notadamente na classe média, foi o cansaço com o fracasso. O desastre na economia, com a falência do Governo Dilma, cujo impeachment tantos chamam de golpe – embora providencial até para o PT - puxou o País.
 

No Ceará, pessoas apavoradas foram às ruas contra a violência. Sofreram e sofrem (porque ainda bradam) a dura rejeição dos ditos movimentos sociais organizados e até de setores da imprensa (lembrem de Lipsig). Múltiplos focos e a mobilização na esfera pública por meio das redes sociais. Tudo ainda novo.
 

E os efeitos? Houve a natural emersão de novos vieses e novos nomes, com exageros e inabilidades inerentes. Faz parte. Passou-se a discutir a agenda nacional e local. Na academia, gente jovem reunida discutindo liberalismo econômico sem cerimônia. Foi muito e foi pouco até agora. Este furor foi percebido pelos Três Poderes, mas muito pouco ou quase nada mudou nas suas estruturas. Como é antiquada a pompa do Judiciário e dos advogados. Carros pretos, placas de bronze e orçamentos dourados.
 

Na Política, novos temas foram devidamente incorporados pelas agendas, mas não convencem quando confrontadas com a realidade das gestões. O alvo é a eleição, cabe todo mundo na Van. Foi em vão? Há uma distância abissal entre o que eles dizem e o que as pessoas esperam. Pior. Nada indica que haja uma ponte em construção.

 

Jocélio Leal
leal@opovo.com.br
Jornalista do O POVO

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