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Editorial. Fracassa acordo com caminhoneiros
Opinião

Editorial. Fracassa acordo com caminhoneiros

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Ao ver fracassar o acordo que o governo fizera com os supostos líderes da greve dos caminhoneiros na noite de quinta-feira, Michel Temer fez pronunciamento ontem, no quinto dia do movimento grevista. O presidente resolveu partir para o confronto, informando ter acionado as “forças federais de segurança”, no caso as Forças Armadas, para desbloquear as rodovias e acostamentos. Para cumprir a tarefa, os militares terão o poder de tomar caminhões e prender recalcitrantes. 


As nove entidades que assinaram o acordo, representando os caminhoneiros, devem ter sofrido forte reação de suas bases, e ficaram sem forças para convencer os grevistas a suspender o movimento. Além disso, a paralisação tem fortes características de locaute (greve de empresários), o que é proibido por lei. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann vê indícios de atuação de empresas no movimento, e disse que pode mandar a Polícia Federal investigar possíveis irregularidades. O transporte de mercadorias é altamente concentrado no Brasil, com empresas privadas e cooperativas dominando 62% do setor, sendo que os proprietários autônomos somam 37% dos transportadores.
 

Ou seja, um motorista, empregado de uma transportadora, não tem seu salário afetado pelo preço do diesel. Já proprietário de seu próprio veículo (autônomo) nada ganha em alguns itens do acordo feito com o governo, como o de livrar o setor de transporte da reoneração da folha de pagamento. Portanto, faz sentido, e deve ser levada à frente, a investigação para verificar se houve participação das empresas nessa paralisação.
 

O fato é que, devido a erros históricos - o favorecimento do transporte rodoviário, em vez do desenvolvimento de uma grande malha ferroviária e de navegação de cabotagem - o Brasil tornou-se refém de um setor que detém o poder de parar o País a qualquer momento, impondo os seus interesses.

Com o problema instalado, o governo agiu da pior forma possível. Primeiro, capitulando a exigências que contrariam frontalmente a sua própria política; depois, ao ver fracassar a negociação, afirmando ter “um plano de segurança” para desbloquear as estradas, com atuação das Forças Armadas, o que poderá levar a confrontos. 

 

Portanto, resta torcer para que o desastre já instalado não descambe para uma situação ainda mais caótica.

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