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Quando o oportunismo vence a oportunidade
Opinião

Quando o oportunismo vence a oportunidade

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Tipo Notícia

Sabe-se pouco do pensamento do general Guilherme Theophilo, fator que inibe qualquer tentativa de imaginar o que seria um governo seu no enfrentamento de problemas em áreas como saúde e educação, para ficar em apenas duas entre as que se considera prioritárias. O que dá para falar sobre ele é que caminha para ser escolhido como candidato da oposição ao governo do Ceará, representando o PSDB — ao qual recentemente se filiou —, pelo vínculo direto e natural que tem com o campo da segurança pública. É, até o momento, o único fundamento que parece credenciá-lo à indicação para o posto.
 

Um mau começo, sem dúvida nenhuma. Sugerir um candidato ao Governo como se estivesse escolhendo um secretário de Segurança Pública, sem apresentar uma demonstração clara de que seja alguém realmente apto a entender as dificuldades políticas de comandar uma máquina administrativa com os desafios e as peculiaridades que temos no Ceará, coloca em dúvida a própria seriedade daquela história anunciada de formação de um grupo de alto nível para direcionar os passos oposicionistas, fazer caravanas pelo Interior, ouvir as pessoas, encomendar pesquisas, blá blá blá. Somente então, dizia-se lá atrás, haveria definição de quem iria representar na luta eleitoral a voz dos que consideram o Estado mal administrado, hoje nas mãos do petista Camilo Santana.
 

Por enquanto, à espera de mais detalhes sobre o que realmente pensa o militar aposentado, fica a sensação de que a única razão que leva ao seu nome como provável candidato é o oportunismo político. A população está com medo, assustada com o avanço da violência que grassa nas ruas e que realmente desafia Camilo e seu governo. Enfim, o ambiente mostra-se propício, na perspectiva objetiva de ganhar a eleição, a uma candidatura que apresente perspectiva de solução para este problema específico. Nada mais simbólico do que oferecer um general como opção, mesmo que isso transpareça mais interesse imediato de explorar a crise na segurança pública do que em vê-la resolvida.
 

Pode-se alegar que uma outra alternativa trabalhada é a do deputado Capitão Wagner, também um militar na origem. Neste caso, porém, já existe uma ideia de como ele pensa a gestão pública, há uma experiência anterior de candidatura majoritária — à Prefeitura de Fortaleza na campanha de 2016 —, enfim, seu pensamento mais largo sobre os problemas e a maneira como devem ser enfrentados de alguma forma encontram-se postos no debate político cearense. Um aspecto que até relativiza suas relações notórias com a temática da segurança, mesmo que elas continuem tendo o maior peso do seu discurso.
 

O general Theophilo, neste momento, é uma invenção como candidato. 

Poderá, à medida em que se apresente, mostrar ser muito mais do que isso e se fazer convencer como opção de qualidade para comandar a gestão pública cearense. No entanto, a maneira como chega ao jogo da disputa pelo governo do Ceará resulta de um processo político que levou em consideração, até agora como único valor, o fato de ter o perfil ideal para explorar eleitoralmente o quadro de medo e de pavor que aflige a nossa população.

 

Guálter George
gualter@opovo.com.br
Editor de Política

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