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Maternidade fora dos muros da realeza
Opinião

Maternidade fora dos muros da realeza

Edição Impressa
Tipo Notícia

O imagem da princesa Kate Middleton perfeitamente arrumada apenas seis horas após o parto do terceiro filho me trouxe uma série de inquietações. Sou mãe de Carolina, que, apesar de ter nascido via parto normal semelhante ao que teve a princesa, não trouxe a mim um bônus de beleza física imediata. Ao contrário: os dias após o nascimento dela seguiram com total desarranjo da minha aparência, sempre relegada a segundo plano diante do sem número de necessidades urgentes do bebê que a partir dali modificaria profundamente quem sou.


Por isso me inquieto: o arquétipo da mãe perfeita, aquela que lida com mudanças intensas que envolvem rearranjo de rotina, cuidados pessoais, ambições profissionais e vida conjugal nos é imposto de forma cruel. Não há espera ou um olhar individual para cada mãe. Devemos retornar o mais rápido possível aos moldes que tínhamos antes da gestação, equilibrar sem falhas as funções de esposa, mãe e profissional sem aparentar cansaço ou deixar escapar reclamações. A imagem da mulher perfeita nos assombra e persegue.
 

Não há muito espaço para falar sobre tristezas, inseguranças e idealizações não concretizadas. Pouco é dito sobre como é profundamente modificador em todas as instâncias que nosso corpo tenha sido atravessado por uma outra vida e raros são os comentários compreensivos com o momento de doação irrestrita que estamos vivendo. A imposição social é que todo o turbilhão vivido caiba em um retrato aos moldes da família real.
 

O que me faz pensar, não sem indignação, que nós mulheres somos alvo constante de um controle social de nossos corpos e mentes. Nossa obrigação é caber nos padrões de beleza, sermos supermulheres, mães que não perdem — nem por um momento — o controle emocional e físico de quem são. Em meio a isso, opto pela subversão. Falo o que sinto sobre a maternidade sem meias palavras, respeito a cadência particular dos meus processos pessoais e, por vezes, sou o extremo oposto da princesa: descabelada e amarrotada, mas nada além de mim mesma. Fora de qualquer padrão e respeitosa com minha individualidade.

 

Marina Solon
marinasolon@opovo.com.br
Editora-assistente
da Editora Dummar 

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