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Editorial. Parada na transposição
Opinião

Editorial. Parada na transposição

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Tipo Notícia


As populações dependentes da conclusão do Eixo Norte do Projeto Integração do São Francisco (PISF), ou seja, mais de sete milhões de pessoas (em Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte) estão ameaçadas de sofrer nova frustração de não ver a obra concluída no próximo semestre (talvez nem no próximo ano), se depender da burocracia de Brasília. Um absurdo, pois faltam apenas 260 quilômetros de extensão (5,6% do total da obra) para a novela ser encerrada. O novo capítulo foi acrescentado com a desistência do Consórcio Emsa, vencedor da licitação para obras do Eixo Norte. Alegou não ter condições financeiras para a conclusão.


Enquanto isso, o Ministério da Integração Nacional manteria os trabalhos apenas em pontos considerados prioritários. Na última quarta-feira, o ministro Pádua Andrade afirmou, no Senado, que o problema não deverá atrasar a obra. Faltaria, entretanto, rescindir o contrato com a empresa desistente, de forma amigável. Alegará que a empreiteira não cumpriu o ritmo previsto, pedindo mais um ano (para concluir). Além disso, existe um débito com trabalhadores de três meses e débitos com fornecedores de mais de R$ 10 milhões. A “persuasão” viria através da ameaça de ela ficar impedida de executar qualquer obra pública em todo o Brasil.
 

Não se trata de algo inédito: outras duas empresas, anteriores, terminaram desabilitadas no processo licitatório por “não atender itens técnicos” do edital, conforme o Ministério da Integração Nacional. Apurou-se que a quarta colocada no processo, estuda a possibilidade de assumir a responsabilidade. 

 

Contudo, o Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro teria se colocado à disposição para tocar a obra.


Ora, se assim for, o mais racional, à primeira vista, é aproveitar essa disponibilidade do batalhão militar, pois essa alternativa já foi usada no Eixo Leste com bastante eficácia, quando ocorreram impasses semelhantes. E a questão é muito séria e urgente, pelas repercussões sociais e econômicas advindas de eventual prolongamento da irregularidade climática, numa população já tão exaurida por uma expectativa demasiadamente prolongada.
 

A má vontade de certos círculos com essa obra não é novidade para ninguém. Foi um trabalho hercúleo trazê-la até aqui, e a incompreensão continua. O que se investiu foi algo comparável aos R$ 10 bilhões pagos de compensação aos acionistas americanos da Petrobras, há poucos dias, sem nenhuma chiadeira semelhante à ouvida desde que se iniciaram as obras da transposição, em 2007. É preciso mais senso de proporcionalidade e responsabilidade social.

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