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Editorial. Ódio é tentativa de sabotar a política
Opinião

Editorial. Ódio é tentativa de sabotar a política

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O Brasil vive uma crescente de ódio, que deixa progressivamente o terreno da retórica para se firmar de vez no dia a dia. Hoje, já há grupos políticos que atuam como facções, apostando no caos como elemento crucial no processo de sabotagem da democracia e, por tabela, das eleições. Para tanto, recorrem a expedientes que denunciam práticas repressivas.


É o caso da obstrução ao direito de ir e vir, quando manifestantes bloquearam estradas que impediram a passagem da caravana do ex-presidente Lula pelo estado do Paraná. Como se viu depois, porém, os atos de força estavam apenas começando. Aos tomates e chicotadas, seguiram-se pedradas e, depois, os tiros que atingiram dois dos veículos que compunham a comitiva do petista, cujo habeas corpus preventivo está prestes a ser julgado no Supremo Tribunal Federal (STF).


A violência, entretanto, não se pratica apenas nas estradas dos rincões do País, mas sobretudo no ambiente virtual, retroalimentando-se como uma espiral de intolerância. Nessa guerrilha antidemocrática, destaca-se o Movimento Brasil Livre (MBL), que esteve por trás da disseminação de notícias falsas sobre a parlamentar carioca Marielle Franco, do Psol, morta a tiros poucos dias depois de criticar a truculência da PM. Até agora, não se conhecem os nomes e os rostos de seus assassinos.


Na esteira do crime, informações passaram a circular relacionando a vereadora, quinta mais votada do Rio, a um traficante. A postagem reproduzia imagem que seria de Marielle - também falsa. O site de origem da mentira era ligado ao MBL.


Mas nem só grupelhos juvenis têm aderido ao radicalismo como mobilizador das paixões políticas. Na última semana, Edson Fachin, ministro do STF, queixou-se de que vem sofrendo ameaças. O magistrado, então, contou haver pedido reforço na segurança para ele e sua família. Assim como ainda não se sabe quem matou Marielle e quem atirou contra os ônibus da comitiva de Lula, tampouco foi identificada a origem da ameaça ao relator da Lava Jato, cujas decisões interessam a todos os políticos na mira da força-tarefa.


Às vésperas das eleições presidenciais, o Brasil vive momento em que seus conflitos se exacerbam. Nesta hora, os acenos a totalitarismos devem ser rechaçados, ainda quando arregimentem meia dúzia de saudosos dos regimes de exceção. E todo gesto de ódio precisa ser encarado como o que é de fato: misto de resposta à classe política e descrença nas instituições, de que não escapa nem sequer o STF. É nesse sentido que se torna urgente entender o que se passa no País: afeto despolitizado, o ódio nega no nascedouro qualquer hipótese de debate. Seja com tiros ou notícias falsas, ele é hoje a ameaça mais grave à democracia brasileira.

 

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