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Editorial. As cidades e a cidade
Opinião

Editorial. As cidades e a cidade

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Fortaleza é cidade de contrastes. Vivências tão múltiplas que se condensam num mesmo tecido social e se complexificam à medida que os desafios da metrópole vão ganhando corpo. É esse corpo urbano que chega aos 292 anos hoje. Há razões de sobra para festejar. Outras tantas que levam a pensar. Como coletividade, aonde aponta o futuro de Fortaleza?


Viver a capital cearense é sobretudo estar atado a um modo de ser: uma existência atravessada pela praia, o forró, os shoppings, as barracas, a Beira-Mar e o Centro. Nossos marcos geográficos e afetivos giram em torno principalmente de um trinômio indissociável: o mar, a gastronomia e o sol.


O caranguejo às quintas-feiras, as compras no Mercado Central, a tapioca e o pastel vendidos em garupas de bicicletas nas ruas, o fim de tarde na Praia de Iracema, o banho de mar no aterrinho, a panelada no São Sebastião, a caminhada no Parque do Cocó. Um amor que se encontra nas esquinas, nas manhãs de sábado do Passeio Público e nas voltas de bicicleta.


Mas é sempre difícil amar incondicionalmente. Há muitos senões pelo caminho. Aniversário também é tempo para isto: repensar o vivido e projetar o que vai pela frente, desenhando outro futuro. E os últimos dias em Fortaleza têm sido amaríssimos. Toda a violência que sobressalta e faz duvidar sobre a capacidade de resposta. No entanto, respondemos. Fortaleza vai em frente. Não se apavora. Não cede ao medo. Tampouco esquece os seus, sejam os de área nobre ou pobre. A cidade é a mesma para todos e todas. Ou se aceita esse pressuposto ou não há paz.


Uma Fortaleza para amar, então, tem um duplo sentido: a cidade real, na qual os fortalezenses de nascença ou por adoção acordam e trabalham desde as primeiras horas - o jangadeiro, a motorista, a garçonete, a estudante, o ambulante, o policial.


E outra cidade para amar que ainda não é presente: é projeto. E é nela que devemos pensar agora. Amar a capital cearense é construir desde agora uma coletividade cujos valores estejam assentados em justiça social e igualdade para quem partilha seu cotidiano. É nessa interação entre a cidade real e a cidade imaginária que se pode chegar a outro aniversário com mais motivos para comemorar do que agora.


Aos 292 anos, os 300 batem à porta e, com eles, toda essa carga simbólica do número fechado. Uma metrópole de três séculos.

Apenas oito anos separam o agora desse futuro que ainda soa como ficção. Em breve, porém, viveremos nele.


Esse é o aprendizado que se pode extrair neste dia: que o futuro da cidade e de seus habitantes é sempre conjugado no presente.

Quando dizemos Fortaleza de amanhã, falamos da Fortaleza de hoje.

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