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A política tem o excesso e o Estado precisa ter o limite
Opinião

A política tem o excesso e o Estado precisa ter o limite

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Tipo Notícia


Do debate político que se faz hoje anda meio difícil esperar algo que indique opção de qualquer dos lados nele envolvidos por uma linha propositiva. Há um jogo sendo jogado, os agrupamentos partidários preparam-se para a etapa oficial, aquela da campanha, das candidaturas, do voto etc e ninguém se sente estimulado a medir os passos a serem dados. A ordem parece ser “avançar”, sempre. Este é um aspecto do momento que vivemos, porém, há um outro de igual importância e que pode garantir o equilíbrio das coisas e sustentar a situação dentro de um limite que espante desequilíbrios e tensões fabricadas.
 

Feito o preâmbulo, discuta-se a crise das últimas horas e dias envolvendo um vídeo veiculado pela TV Al Jazeera, que tem sede no Qatar e busca audiência em países do Oriente Médio, no qual a senadora Gleisi Hoffman, presidente nacional do PT, denuncia o que considera prisão ilegal do ex-presidente Luiz Inácio Lula, para ela “um preso político”, reclama que o processo foi direcionado e levou a uma condenação sem provas. Como a própria disse ontem, durante entrevista ao jornalista Luiz Viana, em seu programa matinal da rádio O POVO/CBN, nada além do que há dito em suas manifestações à imprensa nacional e internacional, diferenciando-se, no caso, apenas o apelo específico à comunidade sob influência da emissora para que apoiasse a mobilização em defesa de Lula, inclusive argumentando ter sido um governante preocupado com a região de uma maneira que nenhum outro, até então, o fora no Brasil.
 

Voltemos, neste ponto, à história lá do momento político caracterizado pela necessidade de demarcar territórios, aproveitar oportunidades e constranger adversários sempre que a oportunidade surgir. É o que pode explicar a atitude de políticos como a senadora Ana Amélia (PP-RS) ou do deputado Major Olímpio (PSL-SP), que transformaram a entrevista da petista a uma emissora árabe em ameaça à segurança nacional, viram naquelas declarações uma espécie de convite ao terrorismo para agir no Brasil, enfim, criaram uma versão que convém aos seus objetivos no contexto de uma disputa de poder. 

 

Neste sentido, repita-se, tudo faz parte do jogo e um script político está sendo obedecido.
 

Há grupos se digladiando pelo poder e este é um aspecto natural de uma democracia, até quando excessos acontecem, desde que existam forças institucionais agindo de modo simultâneo para garantir o equilíbrio social necessário. Contexto em que gera alguma preocupação a notícia de um primeiro movimento do Ministério Público Federal no sentido de dar guarida ao temor dos parlamentares oposicionistas e investigar o teor teoricamente ameaçador ao País da entrevista da senadora à emissora árabe. Gleisi, de fato, reproduziu naquela entrevista os termos de um discurso que está presente o tempo todo às suas manifestações de defesa de Lula e ataque aos responsáveis por sua condenação, ou seja, a diferença que há no caso se relaciona apenas ao veículo emissor e ao público ao qual está direcionado. 

 

Uma injustiça evidente com a TV e seu amplo público de alcance mundial.
Sem discutir o mérito das críticas da senadora e dirigente petista é exagerado concluir que suas declarações à Al Jazeera busquem chamar o terrorismo a entrar no movimento do Lula Livre. Um excesso que cabe no mundo da disputa política, com alguma naturalidade, mas que fica meio perdido quando acolhido no campo da institucionalidade onde atua, de maneira indispensável, o Ministério Público.

 

Guálter George
gualter@opovo.com.br
Jornalista do O POVO

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