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O péssimo exemplo de uma péssima classe política
Opinião

O péssimo exemplo de uma péssima classe política

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Tipo Notícia

A classe política atual do Brasil é de péssima qualidade, certamente uma das mais desqualificadas que a história já registrou. Um ponto que não apresenta importância menor na construção do cenário dramático do País, ao contrário, pode ser inserido entre os grandes responsáveis pelo que temos sofrido e, pior, determina de maneira fundamental a enorme desesperança que nos domina quando tentamos, teimosamente, pensar de maneira otimista em relação ao futuro. A falta de compreensão sobre o que seja estratégico impede que imaginemos possível, mesmo como apenas um exercício, a construção de um consenso mínimo que pareça capaz de trazer de volta uma ideia de rumo para o Brasil.  

O que aconteceu nos últimos dias como debate em torno dos episódios violentos no Sul do País demonstra a falta de lhaneza que hoje grassa no ambiente político nacional. Qual dúvida poderia haver de que, de início, a única reação possível era a condenação vigorosa do ato, era criticar o ataque aos veículos que seguiam em caravana, era defender de maneira clara o direito de ir e vir daquelas pessoas? Havia uma bandeira partidária e uma linha ideológica naqueles veículos, tudo bem, mas, qual crime há nisso?
 

É esta falta de inteligência reinante que justifica a opção preferencial por assistir passivamente os grupos se postando dias seguidos à margem das estradas para investir contra a comitiva de veículos valendo-se de pedras, paus e outros instrumentos à mão, chegando ao extremo do registro de tiros, apenas porque dentro deles havia gente de cuja visão de mundo discordavam os irados agressores. Desde o primeiro momento aquela situação, observada no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, em sequência, exigia dos políticos que tivessem uma resposta dura, clara, de que aquela era uma situação inaceitável.
 

E o que tivemos? Entre os políticos aliados daqueles que seguiam em caravana, naturalmente, denúncias, indignações, gritos, que pouco ecoaram; entre os opositores, um silêncio predominante, cortado, vez ou outra, por manifestações infelizes de quase apoio à ação animalesca de quem foi à hostilidade gratuita como meio de responder a uma ação política. Foi o que aconteceu com a senadora gaúcha Ana Amélia Lemos, do PP, que chegou a saudar os conterrâneos que “botaram a correr aquele povo que foi lá levando um condenado”. Uma apologia evidente à selvageria, partindo de alguém que deveria preservar a democracia e sua capacidade de encaminhar as saídas pelo diálogo, especialmente entre diferentes. Já com o episódio dos tiros em discussão, tivemos o governador tucano Geraldo Alckmin (SP), dado como um homem ponderado, talvez um dos políticos atuais aptos a conduzir o País a uma pacificação, reagindo com a linha “colheram o que plantaram”. Depois até tentou remendar, reafirmando-se contra violência de qualquer espécie, porém, o estrago já tinha sido feito por sua reação mais natural, antes da ponderação de aliados e assessores, ao que acontecera no Sul do País.
 

A postura deveria ser diferente até por instinto de preservação deles próprios, mas o que ficou evidenciada foi a falta de compromisso democrático da turma. Hoje é contra um grupo, amanhã será contra outro, daqui a pouco será de um contra o outro e, enfim, sem uma ação das forças políticas organizadas o caminho inevitável é o caos.

 

Guálter George
gualter@opovo.com.br
Editor de Política

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