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Quando a bravata passa por solução
Opinião

Quando a bravata passa por solução

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Bobo é quem acredita que o brasileiro quer resolver alguma coisa. Do lado de cá, a gente gosta mesmo é de reclamar. De fazer zoada. É algo que se encaixa muito bem com outra paixão nacional, o petisco. Como disse certa vez o cartunista Bruno Marun, da série Dinâmica de Bruto, o brazuca é um petisqueiro nato: petisca na religião (a nação dos “cristãos não praticantes”), petisca no futebol (os milhares de flamenguistas e corintianos que nunca pisaram em um estádio), petisca na política (precisa exemplificar?).


Não é à toa que expressões como “bandido bom é bandido morto”, “tá com pena leva pra casa” ou “quem compra drogas financia o crime” são tão populares por aqui. Bons bordões para apontar dedos ou extravasar a impotência e o pavor diante da violência, mas mantras extremamente inúteis do ponto de vista de resultados práticos. Ai da nação com 60 mil homicídios que acha que a solução é matar mais gente, ou daquela que deposita suas esperanças na abstinência samaritana de todos os seus usuários de drogas.


E assim, entre uma ressaca de Carnaval e outra, vamos tentando resolver os problemas de um País de dimensões continentais com petiscos governamentais que vão se acumulando e logo caindo no esquecimento. Prédios dos Correios estão pegando fogo? Privatiza. Pouco importa que empresa nenhuma vai querer entregar cartas em Deputado Irapuan Pinheiro. Empresas públicas estão dando prejuízo? Quebra. Tanto faz se são órgãos que constroem estradas ou cisternas para sertanejos miseráveis. Não é problema nosso.


A bola da vez é intervenção militar anunciada semana passada no Rio de Janeiro. Depois de algumas décadas de matança entre gangues, o governo federal resolveu acordar e descobrir que tem algum papel dentro disso tudo. E vai mandar soldados para subir o morro e estrangular o crime organizado.


Flash-forward para alguns anos à frente. O mercado ilegal de drogas continua sendo o negócio mais lucrativo do País. As favelas e comunidades miseráveis continuam suprindo a oferta de jovens sem muitas perspectivas fora o crime. A prisão, agora recebendo menores de 18, segue um poderoso ponto de recrutamento e organização de facções. O brasileiro, que não aprendeu nada, culpa os Direitos Humanos e pede mais morte como solução.

 

Carlos Mazza

mazza@opovo.com.br

Jornalista do O POVO

 

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