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Fábricas de bandidos
Opinião

Fábricas de bandidos

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Não tem como fugir do assunto do momento: a intervenção militar do Rio. O Brasil inteiro está em alerta. É um problema nacional e qualquer movimento lá, impacta os outros estados. Se é estratégia para conquistar o apoio popular, pode até ser. Agora, se o desafio é trazer a paz e construir um modelo para inspirar os demais estados, onde estão os planos para lidar com as fábricas de bandidos?


Não há dúvidas de que a questão alcançou tal nível de complexidade que é necessária maior preparação estratégica e tecnológica.


Mas qual é o plano para a educação? Qual a estratégia para oferecer igualdade de oportunidades? Como suprir o gap histórico da garantia de condições dignas de vida, acesso pleno à saúde, lazer, cultura e esporte?


As fábricas de marginais de que falo está na ignorância impregnada numa sociedade na qual, ainda em 2015, cerca de 69% sequer conseguiu atingir o nível intermediário de alfabetismo. A produção em série de bandidos vem da omissão histórica de muitos presidentes em implantar políticas públicas sociais capazes garantir os direitos dos cidadãos e cumprir as obrigações do estado. A partir daí se dá o cascateamento de fábricas, como as famílias desestabilizadas cujos pais não conseguem proteger os filhos da vulnerabilidade social; escolas sucateadas que não conseguem oferecer educação de base de qualidade; corrupção sistêmica encrustada em toda a sociedade; desigualdades socioeconômicas; e muitos outros vetores.


Há 50 anos, Darcy Ribeiro previa: se não construirmos escolas, teremos que construir presídios. O processo de paz não passa apenas pelo enfrentamento armado. Precisamos ir na essência e atuar também na trama de gatilhos que alimentam o sistema e que estão latentes. Eles precisam de ações coordenadas urgentes para neutralizá-los. Muitas delas só surtirão efeito a médio e longo prazos. O Brasil agonizante tem pressa.

 

Eliziane Colares

eliziane@advance.com.br

Publicitária, empresária e sócia da Advance

 

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