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Editorial. Intervenção federal: riscos de simplificação
Opinião

Editorial. Intervenção federal: riscos de simplificação

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Tipo Notícia

Aaprovação pelo Congresso Nacional da intervenção federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro ocorreu sem surpresas. Há, entretanto, quase um consenso em relação à natureza arriscada da iniciativa, do ponto de vista político, e o temor de novas frustrações, em termos de resultados concretos. Todos concordam quanto ao reconhecimento da necessidade de erradicação ou contenção do crime organizado. A divergência está na forma e oportunidade de fazê-lo.


A parte visível do tráfico traduz-se nas facções que se apoderam de territórios habitados pela população mais pobre e socialmente vulnerável, submetendo-as ao seu domínio, seja pelo terror, seja pela prestação de pequenos favores à comunidade, substituindo a ausência do Estado. Aí se fixam as facções e os contingentes recrutados por elas entre a juventude desprovida de qualquer perspectiva do futuro.

Há quem suponha que os verdadeiros donos do tráfico são invisíveis: residem supostamente em ambientes luxuosos e transitam muito bem nos círculos do poder político e dos negócios, em âmbito nacional
e internacional.

Uma visão simplista pretende isolar o fenômeno do contexto social, econômico, cultural e político que o enseja. E, assim, enfrentá-lo apenas com a repressão àquela parte mais visível, não levando em conta que os criminosos estão imbricados na população trabalhadora residente, como acontece, nos morros do Rio de Janeiro, ou nos bairros periféricos de outras cidades e não se deve colocar essa população inocente na linha de fogo.  

 

Ademais, é preciso que as ações repressivas além de cingidas à legalidade, 

sejam acompanhadas de políticas públicas que incorporem essas populações ao tecido social da Nação, dando-lhes acesso à saúde, educação, lazer, moradia, emprego e renda e segurança pública.
 

O emprego das Forças Armadas na segurança pública, nos morros do Rio de Janeiro “é desgastante, perigoso e inócuo” - reconheceu o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, durante uma audiência pública no Senado, em junho passado. Citou a atuação da tropa, durante 14 meses, na comunidade da Maré, no Rio de Janeiro: “Do dia em que saímos, uma semana depois tudo havia voltado ao que era antes”. E isso depois de gastar mais de R$ 600 milhões. Pelo visto, se fosse pela vontade do Exército, isso não seria repetido.
 

Na verdade, a atual operação não está subordinada estritamente ao comando do Exército, mas, diretamente ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da presidência da República. De nada valeu esse depoimento?.

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