SIM
Este artigo não é sobre o Rio de Janeiro
E nem poderia ser.
Este artigo é sobre as 5.134 vítimas de homicídio no Ceará em 2017. Repito: 5.134 pessoas, famílias, mães, pais ou filhos e filhas que tiveram a vida devastada pela violência.
Para efeito comparativo, o Rio de Janeiro, com quase o dobro da nossa população, teve 6.731 homicídios. Enquanto eles têm uma taxa de homicídio de 40,8 para cada 100 mil habitantes, a nossa é de 57,7. Em Fortaleza esse número chega a 81,5.
Com esses dados e pensando em cada uma das vítimas: qual estado precisa de intervenção na segurança? Quem precisa reconhecer que a situação está insustentável e agir para salvar vidas e trazer o Ceará de volta à normalidade?
Uma intervenção federal não ocorre da noite para o dia. Mas uma coisa é fato: sempre vai começar com a incapacidade do governador em lidar com uma situação grave. E mais: com o reconhecimento por parte do governador disso. Vamos ser francos: é preciso coragem para reconhecer que se perdeu o controle da segurança em um estado.
Aqui, temos um governador acovardado vendo uma população e uma polícia sitiadas, com chacinas, arrastões. Essa covardia dele, do seu líder - que se recusou a investigar o crime organizado -, e do seu staff afeta milhares de famílias.
O que fica claro é que uma ação real precisa ser feita. A polícia precisa ser valorizada, receber investimento e apoio para atuar de forma ativa. A inteligência precisa funcionar com um comando estável e não com a espetacularização que assistimos dia a dia.
Protocolei ainda no ano passado o pedido de intervenção federal na segurança no Ceará e é por isso que acredito nessa defesa. Estamos sem comando, a polícia precisa ser ajudada, reestruturada. E isso inclui serviços de inteligência, vigilância e administração na área.
Me entristeço muito de ver um dos principais destinos turísticos do País, que é o nosso estado, nessa situação. Ao mesmo tempo, tenho profunda esperança que podemos contornar essa situação.
Domingos Neto
dep.domingosneto@camara.leg.br
Deputado Federal (PSD-CE)
NÃO
No Rio de Janeiro, a insegurança faz predominar o sentimento de que “como está não dá mais” e de que “é preciso fazer alguma coisa”. O discurso do pavor e medidas de punitivismo extremado ecoam na população desamparada – e não apenas no Rio.
Só que esse “fazer algo forte” não passa pelo que Michel Temer decretou. Sua medida é político-eleitoral e de viés publicitário. O espetáculo visa criar a “sensação de Segurança”, que vai embora junto com os blindados. Nada de estrutural, de profundo, de substantivo, de nacional.
Moldura da hipocrisia: o MDB federal intervindo no MDB estadual, em acerto de bastidores para que toda a lama produzida por eles há anos seja esquecida.
Sobra sempre para os mais pobres: o governo já anuncia mandados de busca e apreensão COLETIVOS. É o aval para o pé na porta dos moradores das comunidades. Enquanto isso, a cúpula do crime organizado ocupa palácios do Executivo e do Legislativo, busca influir no Judiciário, financia campanhas, voa em helicópteros e jatos com chancela oficial.
O NÃO à essa intervenção populista e perigosa, sobretudo para os moradores das comunidades pobres, exige também um SIM às alternativas de políticas públicas que governos democráticos, comprometidos com o povo, deveriam implementar:
- Novo modelo de gestão das polícias, com sua reestruturação e prioridade para inteligência
e prevenção;
- Melhoria da sua formação, qualificando a investigação criminal, além da óbvia remuneração decente e paga em dia;
- Criação de ouvidorias independentes nas polícias, inclusive
a Federal;
- Forte e integrado combate ao contrabando de armas e munições;
- Constituição de Forças-Tarefa para ações em áreas mais violentas, sempre com a participação do Ministério e Defensoria Públicas;
- Reformulação total da política prisional;
- Debate nacional por uma nova política de drogas;
- Revitalização de programas sociais, culturais e de postos de trabalhos.
Chico Alencar
chicoria@chicoalencar.com.br
Professor de História, escritor e deputado federal (Psol/RJ)